segunda-feira, 22 de setembro de 2014

EMBAIXO DO VIADUTO



Uma rua solitária, pouca luz na noite
E um covarde à espreita...
Uma faca no pescoço, a palavra um açoite.
A mão nervosa segura o braço
O terror, o estremecer...  Não aquele abraço!
Sonhara, sorrira, encantara-se
A primeira vez seria com quem amava
Mas, agora o aço, o asco
Embaixo do viaduto, o horror
A desilusão, as lágrimas, a dor
Num momento tudo, no outro nada...
A lâmina estava ali... Desafiadora... Cortante
Uma só decisão... O sangue rugiu lancinante

Nunca mais...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

VAMOS CONVERSAR....

Vamos conversar...
É um bom começo ... Será ?
Bom, que seja um monólogo!
Eu tenho o direito de pensar e escrever.
Quem lerá? Não sei, mas importa mesmo é colocar as ideias. Depois, mais tarde, quando as ler poderei , talvez, julgar.
Julgar? É justo?  Bom, é isso que fazemos o tempo todo!
Julgamos o nosso cachorro, o nosso gato, o nosso passarinho, as formigas, as baratas, as cobras, o tigre, o leão, os peixes... e sobretudo o nosso semelhante.
Semelhante? Perguntou Quintana, “Quem é o nosso semelhante?”
Ando aproveitando o tempo que Deus me deu para realizar leituras um pouco mais aprofundadas.
É isso! A realidade retratada. É a sociedade que construímos. Será que eu ajudei a construir? Acho que sim. E por isso continuo protestando através das formas que posso no voto, no exemplo, nas palavras, nas ações.
Sobre educação, é um bom tema!
Tenho ouvido e lido bastante sobre educação. Tenho vivenciado algumas transformações, desde o meu tempo de estudante, após dos meus filhos, agora dos netos. Isso me dá certo crédito.
Nos meus bons tempos, lá pelos idos de 1950/1960, ser professor, antes ser professora, porque, professor era raro, notadamente no ensino primário e no ginásio (hoje ensino médio) era profissão por aptidão ou gosto, não por necessidade, como hoje é. Salário era apenas complemento, pois as professoras ou casavam com cadetes do exército ou médicos. Eram, por assim dizer, pertencentes à classe média, que na época era bem abastada. A professora era respeitada como mestra, nas escolas havia disciplina, respeito, cultivava-se o Hino Nacional, Bandeira brasileira, a Pátria. Ensinava-se moral e cultivava-se Deus.
Daí veio um camarada e disse que tudo isso era da elite e os demais eram os excluídos, criou a pedagogia do excluído. E vieram os entendidos e interpretaram as ideias e acabaram com o respeito, com a disciplina, Não pode mais cantar o Hino Nacional nas escolas, não pode mais falar em Deus, não pode mais punir. Professor não detém mais o saber, ele deve ser humilde, reconhecer sua ignorância e aprender com os alunos. Esses são os novos reis. Professor tem que ser eclético, deve saber lidar e ensinar uma classe heterogênea de 35 alunos, com alunos com deficiência intelectual, ou física, alunos superdotados, autistas, com dificuldades de aprendizagem, com mal educados, indisciplinados, bem educados e disciplinados, Qis diferentes, e outras diferenças mais.
A hipocrisia grassa nas escolas como capim. Eu gostaria de fazer uma estatística nas escolas e saber quantos professores tiveram algum transtorno psíquico, quantos estão se sustentando por meio de remédios calmantes. De saber quantas escolas estão preparadas para aplicar as novas leis e decretos para absorver a tão propalada inclusão escolar. Eu gostaria de saber, também, entre outras tantas coisas, sobre gestão escolar ou, talvez, com mais abrangência, sobre gestão na educação. Gestão sobre pessoas fundamentalmente, sobre recursos, foco no aluno. Foco no professor! Relações humanas! Fraternidade! Compreensão! Integração real com a comunidade escolar.
Hipocrisia, por quê?
Porque impera a lei do faz de conta: “Eu digo que deve ser assim e você diz que faz!” Mas, ninguém provê nada, e eu, portanto, não faço. O discurso hipócrita existe: eu faço a gestão que posso, eu ensino o que posso e o aluno aprende o que pode. E fica o dito pelo não dito. E a educação está no caos que está, como todo mundo sabe.
Eu diria que chega de intenções!
Vamos agir!
A comunidade consciente, que quer uma boa educação para seus filhos, deve agir. As leis que dão garantias estão editadas e os canais de reivindicação estão disponíveis: Conselho Tutelar, Ministério Público, Secretarias, Círculo de Pais e Mestres e outras organizações e instituições. Tudo dentro da lei!
Olhem, não falei da violência, do bullying, na incompetência, no despreparo, na institucionalização do poder que deprime, na corrupção – pobre escola brasileira!
Ah! E de certas ideias oportunistas, como esta: “Aluno não é estudante!” propalada, agora, por algum mestre e “euforizada” por outros. Professor não é mais professor é trabalhador em educação! Antes era “Professora”, depois durante muito tempo, “Tia”, agora “Professora”  novamente – pobre aluno!
Resumindo o que é real:
-  as escolas dissociadas da realidade social e sucateadas, gestores à própria sorte;
- o professor está jogado dentro da sala de aula com a ordem: “Te vira que o filho é teu!”
- alunos “endeusados”.
Como, ainda, vivemos numa democracia, segue meu e-mail para conversarmos:
Ivanio Fernandes Habkost
Novo Hamburgo.







terça-feira, 9 de setembro de 2014

PANELINHA


CURIOSIDADE: “PANELINHA
Pesquisando a vida e obra de Machado de Assis http://pt.wikipedia.org/wiki/Machado_de_Assis
deparei-me com a seguinte descrição que extrai do endereço: 
“Em 1901, criou a "Panelinha" para a realização de festivos ágapes e encontros de escritores e artistas, como a da fotografia acima. De fato, a expressão panelinha foi inventada destes encontros, onde os convidados eram servidos em uma panela de prata, motivo pelo qual o grupo passou a ser conhecido como Panelinha de Prata.”

Este termo “Panelinha” é conhecido e usado em qualquer segmento social. Desde a minha juventude já ouvia e usava este termo. É, talvez, um conceito que mais se enraizou na fala popular do brasileiro, atravessou já dois séculos, mais ou menos, e permanece vivo. Esse Machado de Assis é mesmo imortal!

O Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, define assim ‘panelinha”:

- Panela pequena; (fig.) conluio para fins pouco descentes; grupo de políticos do mesmo partido, que, mais sensíveis aos interesses individuais que aos coletivos, repartem entre si as vantagens do poder;  grupo literário muito ligado , e dados ao elogio mútuo.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

NOSTALGIA


Para comemorar o meu aniversário (4/8/2014), brotou nostalgia e fui virando as páginas....


Vou virando as Páginas

Vou virando as páginas,
Jogando fora todo legado
Da Filosofia, Matemática e Biologia
E toda a hipocrisia das falas vazias

Arrancando as páginas das ilusões
E desilusões desconhecidas
Dos girassóis que não giraram com o sol
E dos espinhos das rosas que feriram

Vou riscando os sonhos das fantasias
Perdidas nas muitas folhas deste caderno
Borrando as fotografias dos amores e dores
Fustigando a saudade que me abana em cada dia

Fecho entre as mãos as páginas viradas
Aconchego-as em meu peito
Despeço-me...atiro ao fogo esse pedaço

E, no crepitar das chamas, desfaz-se a vida!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

BALSEIROS DO RIO URUGUAI

Em 9/06/2014

Este vídeo merece fazer parte do meu acervo sobre histórias e recordações do rio Uruguai, rio de minha infância às suas margens, na cidade de Itapiranga onde nasci.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

JET LAG

JET LAG - (JET-No caso, o conceito está ligado a avião a jato, ou simplesmente Jato: LAG-No caso, o conceito está ligado à diferença de fuso horário.)

Definição de dicionário de lingua inglesa (Complete WordFind – Reader’s Digest Oxford)
!) Extreme tiredness and other bodily effects felt after a long flight involving marked differences of local time.– extrema fadiga e outros efeitos corporais(biológicos) sentidos após um longo voo envolvendo grandes diferenças do tempo local.(tem a ver com fuso horário).


http://pt.wikipedia.org/wiki/Jet_lag

O Jet lag (em português: descompensação horária, ou em medicina, dissincronose) é uma fadiga de viagem, é uma condição fisiológica que é uma consequência de alterações no ritmo circadiano.

(Ritmo circadiano ou ciclo circadiano (do latim circa cerca de + diem dia) designa o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos, sendo influenciado principalmente pela variação de luz, temperatura, marés e ventos entre o dia e a noite.
O ritmo circadiano regula todos os ritmos materiais bem como muitos dos ritmos psicológicos do corpo humano, com influência sobre, por exemplo, a digestão ou o estado de vigília e sono, a renovação das células e o controle da temperatura do organismo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ritmo_circadiano  )

O Jet Lag ocorre como consequência de viagem através de vários fusos horários, o que se tornou comum com as viagens a jato e daí o nome em Inglês (Jet, jato; Lag, diferença de horário). Desta maneira após uma viagem passando por vários fusos horários a pessoa se sente como se o relógio interno dela (relógio biológico) não estivesse no mesmo do horário do local.

Desta maneira logo após uma viagem cruzando fusos horários há um distúrbio do sono pois a pessoa quer dormir no horário que estava habituada e não no horário local - isto denomina-se Jet Lag. Este é um tipo de Insônia pois não consegue dormir no horário que deveria.
 Quando uma pessoa viaja entre vários fusos horários, o relógio biológico não fica de acordo com o horário do destino, pois o ritmo dia/noite em que a pessoa estava acostumada: o padrão natural do corpo é mudado, como por exemplo as horas de refeição, de repouso e regulação hormonal já não correspondem ao ambiente. Desde o momento da chegada no destino e adaptação ao horário local, a pessoa está sofrendo um jet lag.

SONO ACUMULADO E O EFEITO JET LAG
(Extraido do caderno “Saúde”, p.3, Jornal NH, 14 a 20.05.2014)

Começar a semana cansado é algo bastante habitual, já que no Domingo pela noite muitos dormem mal. Desta forma, arrastam uma dívida de sono durante toda a semana Para recuperar o descanso perdido, acordam mais tarde no fim de semana, o que favorece que pela noite não tenham sono e assim a história se repete. Nesta dificuldade para adaptar o ciclo do sono às demandas sociais, os ritmos circadianos influem de forma decisiva.
“Os ritmos circadianos são ciclos biológicos que tem a duração aproximadamente 24 horas. O relógio biológico sincroniza esses ritmos com o meio externo, que marca o ciclo da luz e da escuridão, os horários de alimentação e o tempo social, diz Maria José Collado, psicóloga e pesquisadora da Universidade Complutense de Madri. Segundo ela, nossos dias estão estruturados pela interação dos ciclos circadianos, solar, biológico e social. Em função disso há pessoas matutinas e vespertinas, o que os especialistas chamam de cotovias e corujas.
É fundamental dormir o suficiente toda semana e não acumular o sono perdido durante os dias de trabalho. Collado afirma que horários regulares ao longo de toda a semana facilitam a adaptação do relógio biológico a nossos requerimentos ambientais e sociais.
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Fiz esse estudo para alertar a todos que têm uma vida atribulada, muitos trabalhando à noite, outros, alternando dia e noite no trabalho, outros ainda não se preocupando, acarretando  conseqüências sérias para a sua saúde. 
São preocupações, também, de cunho social, uma vez que muitos acidentes no trabalho, no lar, no trânsito, têm como causa o efeito JET LAG quase nunca detectado, dando-se como causa do acidente, muitas vezes, falta de atenção, falta de treinamento, imprudência e outras causas mediatas.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

MORTE PARA AS MOSCAS, OU NÃO?




Quem sabe possamos interagir um instante, caro leitor. A história que quero compartilhar com você é o destino de uma mosca. Você conhece uma mosca.  Imagine essa mosca. Como seria a sua mosca? Não vou lhe dizer como é a minha mosca, pois aí seria, a sua mosca, igual a minha. Então, escolhida a nossa mosca, ela começa a nos importunar com o seu voo e a pousar, insistentemente, ora na mão, ora no rosto, ora, bem, onde a sua mosca está pousando em você? Eu espanto a impertinente mosca, com minha mão, a seguir com o guardanapo. Ah, eu estou em um restaurante, e você? Quando chega a minha comida, a mosca resolve almoçar também. Você já viu que a hora em que a mosca me importuna é por volta do meio dia. Não sei onde e a que horas a sua mosca lhe importuna Pense nisso. Talvez você esteja lendo, em casa, ou no consultório do médico, ou quem sabe a mosca está lhe importunando enquanto dirige? Ou enquanto come um cachorro-quente? Como eu posso saber, se não estou com você.?   Só posso imaginar, mas você sabe onde eu estou e a que horas a maldita mosca está me importunando. E agora ela pousa no meu bife. Você, leitor, admitiria que sua mosca pousasse no seu bife, ou no seu pão, ou em outro qualquer alimento seu?  Eu detesto  mosca pousando no que estou comendo. Fico a imaginar por onde ela andou pondo suas patinhas, cheias de bactérias e micro sujeiras e não consigo admitir que mosca alguma pise em minha comida. O que você faria com a sua mosca? Você sabe que mosca é bicho insistente, e persistente, não é mesmo? E também, muito rápida. Por quê você acha que a mosca é um bicho tão rápido? Penso que é um esquema de anatomia, mas também tem muito a ver com o vento que é deslocado perto dela quando tentamos atingi-la. Bem, formule a sua teoria. Eu teria que pesquisar. Então, a minha mosca, está pousada no meu bife. Penso no que fazer. Penso fundo, enquanto olho a fatídica mosca no meu bife e chupando o molho ensanguentado do bife. Credo, que expressão fora de hora! Minha fome está aumentando. Maldita mosca. Você é vegetariano?. Talvez seja hora de pensarmos nisso. O que faz uma mosca! Abalando nossas concepções, não é mesmo? Se a mosca não estivesse me perturbando, com certeza, as minhas energias estariam concentradas em algo mais produtivo, ou também, aproveitando o ambiente, talvez, admirando as pessoas ou questionando a sua aparência ou algo assim. Em que ou no que você aproveitaria o seu tempo, caso a sua mosca não existisse? Mas, como ela existe e também perturba você, talvez possamos juntos elaborar algumas idéias para afastar nossas moscas. Creio que o mais prático seria matá-las, mas a minha mosca se tornou esperta e pousa no meu bife, no meu arroz e se eu for tentar matá-la, espalho comida pela mesa toda. O que você sugere? Será que aprendo a conviver com ela viva? Parei de comer. Analisando com mais cuidado a situação resolvi chamar o garçom. Por favor, amigo, você pode eliminar essa mosca? O garçom, gentilmente, pegou o meu bife e, com cuidado, levou-o com a mosca. Em seguida trouxe outro bife, sem mosca!
Afinal, não precisei matar a mosca, nem perguntei ao garçom se ele a matou. E, você, leitor, deu um destino a sua mosca? Ou acha que pode conviver com ela? Você já ponderou se poderia viver sem mesmo uma mosca a lhe incomodar? Como seriam nossas vidas sem moscas? Pense nisso!
Depois que o garçom levou a minha mosca, comecei a comer. Enquanto mastigava, levantei os olhos e vi que uma jovem, em uma mesa além da minha, me olhava insistentemente. Vi que escrevia alguma coisa no guardanapo e fez um sinal que entendi que o enviaria para mim. Chamou o garçom e lhe entregou o guardanapo, fazendo um gesto em minha direção. O garçom chegou e li no guardanapo: “Por que o garçom levou o seu bife?”. Pedi que o garçom esperasse e devolvi o guardanapo com minha resposta: ”Porque havia uma mosca pousada nele!” A jovem, ao ler a resposta, deu uma gargalhada, levantou-se e foi embora. O que eu perdi, caro leitor? Pode me explicar?
Afinal, o que você fez com sua mosca?
Vou lhe dizer algo interessante,: na faculdade, um calouro recebeu o apelido de “Mosca” e foi tão forte esse apelido que o colega se formou sendo conhecido por “Mosca”. Ainda, depois de tantos anos, décadas se passaram, e me lembro do “Mosca”. Não me recordo a origem do apelido, mas posso imaginar! Um típico caso de “bullying”, não é mesmo? E na faculdade!
Hoje, joga-se banana para os jogadores negros nos campos de futebol. Tantos anos e nada mudou!
Quando baixei os olhos para continuar comendo, uma mosca estava pousada no meu bife! Será a mesma ou outra que vem me perturbar?
Garçom, você matou aquela mosca?

terça-feira, 8 de abril de 2014

JULGAMENTO TRIBAL



O Conselho Tribal estava reunido para  julgar três jovens índias da tribo.
Toda a tribo estava em volta. Casualmente, nesse julgamento, haviam dois segmentos formados, de um lado se agrupavam as índias e de outro os índios o que não era comum de acontecer. Sempre, nos julgamentos da tribo, índios e índias se misturavam
O Grande Chefe, iniciando os trabalhos, anunciou, solenemente, o motivo do julgamento. Antes pediu que as três jovens se levantassem e jurassem dizer a verdade. E foi o que fizeram. Então o Grande Chefe deu a palavra aos Conselheiros da Tribo para que iniciassem as perguntas.
O primeiro Conselheiro indagou:
- O que é que vocês estavam usando?
Silêncio...
- Respondam, o que vocês estavam usando:?
- Chama-se “Pakova-Ju’a”, respondeu uma delas.
Ouve-se um murmúrio entre as índias.
O Grande Chefe pediu silêncio e fez sinal para que outro Conselheiro fizesse a sua pergunta.
- Vocês não aprenderam com suas mães que a índia tem que andar nua?
Novo silêncio...
Ouve-se um protesto. Alguma índia da tribo gritou: “Esse julgamento não é justo!”
Silêncio mortal...
O Grande Chefe, levantou-se, com o cajado em riste e indagou furioso:
- Quem foi que falou? Qual mulher ousou interromper o julgamento?
- Fui eu, respondeu a mulher do Grande Chefe, levantando-se no meio das índias.
Um imenso murmúrio se espalhou em vozes entre as índias.
Um guerreiro vociferou:
- Ela deve ser punida.
Novo silêncio mortal...
O Grande Chefe estremeceu, baixou o cajado. Longo silêncio se fez.
Por fim a sentença:
- Esse julgamento é justo e vai continuar. Quem se opuser será lançado às formigas e seu corpo banhado em mel.
Prossiga o julgamento, Conselheiro.
Repito a pergunta, disse o Conselheiro:
- Vocês não aprenderam com suas mães que a índia tem que andar nua?
Todas as três, em julgamento, concordaram com um movimento de cabeça.
Como era de costume no Conselho Tribal, cada Conselheiro tinha direito a uma só pergunta.
Levantou-se o terceiro Conselheiro e indagou às jovens?
- Por quê vocês resolveram usar esse tal de “Pakova -Ju’a”?
A mais jovem apressou-se a responder:
- Peço permissão para usarmos, agora, para que os senhores Conselheiros avaliem melhor.
Neste momento, do lado masculino, ouve-se, um “Ohhhh ! prolongado.
As índias aplaudem...
- Silêncio! Ordena o Grande Chefe. Vamos fazer um intervalo. Os Conselheiros me sigam até a minha tenda. Levem as rés para a tenda prisão. Ninguém fale com elas.
Chegando à tenda o Grande Chefe, pegou o cachimbo, colocou o fumo e a erva destinada aos momentos de grande decisão e, após aceso, aspirou bem fundo a fumaça da queima do fumo e da erva. Tragou mais duas vezes, passou o cachimbo aos Conselheiros e ordenou que tragassem apenas duas vezes o que foi feito pelos cinco Conselheiros. Quando o último lhe devolveu o cachimbo o Grande Chefe deu mais três tragadas e a fumaça escondeu seu rosto. Quando a fumaça se dissipou, os olhos do Grande Chefe estavam fechados. Todos os cinco Conselheiros esperavam a decisão do seu chefe.
Depois de um longo período calado, abrem-se os olhos do Grande Chefe e de sua boca, em voz roufenha, sai a pergunta aos Conselheiros:
- Devemos permitir que elas usem o “Pakova– Ju’a”” no julgamento?
Os Conselheiros estremeceram. Como o Grande Chefe deixava para eles a decisão?
Um deles se atreveu a responder:
- Mas, Grande Chefe, isso vai ser muito perigoso.
- Como perigoso? Argüiu o Grande Chefe.
- O “Pakova-Ju’a” é um atentado aos nossos costumes. Como permitir que elas façam essa demonstração  Vai aguçar a sexualidade de nós todos, principalmente, dos jovens. Podem ocorrer muitos estupros pela mata a fora. 
- Mas, é exatamente isso que elas querem provar com o pedido delas. 
O Grande Chefe não entendeu de novo e pediu que o Conselheiro explicasse.
- Pois, Grande Chefe, elas querem provar que o índio que é o sem-vergonha. 
Os outros Conselheiros protestaram. Armou-se um início de confusão. O grande Chefe, usou o seu apito para impor silêncio e anunciou sua decisão:
- Vamos permitir que elas usem o “Pakova-Ju’a” e façam a sua demonstração e, então, daremos nosso veredito.
Depois de estarem todos acomodados em seus devidos lugares, mandou o Grande Chefe que trouxessem as rés.
Alguns minutos de silêncio interrogativo e o Grande Chefe anunciou a decisão do Conselho:
- As rés podem usar os seus “Pakova-Ju’a” para que possamos julgar melhor.
Um tremendo alvoroço na platéia. Os jovens da tribo, assobiavam, algumas batiam palmas, índias mais velhas apupavam. Foi difícil conter os ânimos.
O Grande Chefe chamou os guardiões da tribo, mandou prender os mais exaltados e aos poucos a indiada foi se acalmando.
Nesse ínterim as jovens, em julgamento, já haviam colocado o seus “Pakova-Ju’a” que consistiam de uma folha de bananeira na frente  e outra atrás, cortadas na forma de coração, as quais cobriam as partes íntimas. Também cobriam os seios, agora, com duas folhas de amora, bem escolhidas.  Começaram a desfilar na frente dos Conselheiros e  do Grande Chefe, sob as aplausos da platéia. 
- Chega! gritou o Grande Chefe.
Repetiu-se o silêncio mortal...
O Grande Chefe pegou o cachimbo que havia trazido, deu três longas baforadas. Olhou para os Conselheiros que não tiravam os olhos das três rés. Estas estavam petrificadas esperando o veredito do Grande Chefe. O povo todo aguardava. Ouvia-se a respiração do Grande Chefe que não parava de fumar. Em sua cabeça desfilava a imagem de sua mulher, na tenda, usando esses tais de “Pakova-Ju’a”. Fumava e fumava. O suor escorria-lhe pela testa. Suas entranhas fervilhavam, seu coração batia forte.
Por fim, sua voz nervosa ecoou:
- Vão buscar o Pajé!
Um dos Conselheiros ousou dizer:
-   O Pajé não é Conselheiro!
-  Mas, é o guardião dos bons costumes da tribo, respondeu outro.
- Silêncio, ordenou o Grande Chefe, vão buscar o Pajé!
As índias, em julgamento, estremeceram. Uma murmurou com a outra “Agora, seremos queimadas vivas!” A mais jovem começou a chorar e foi consolada pelas outras duas. ”Pelo menos, fizemos o que queríamos. Vamos ser lembradas como pioneiras”. “De que vale ser pioneira morta!”. “Vou tomar veneno antes de ir para a fogueira”. E assim confabulavam quando chegou  o Pajé.
O Grande Chefe inteirou o Pajé do que se tratava o julgamento e pediu a sua sentença, como guardião dos bons costumes da tribo.
O Pajé tinha trazido junto suas ervas purificadoras. Mandou que as rés se abraçassem uma de frente para a outra, fez um círculo, ao redor delas, com as ervas. Colocou fogo nas mesmas e uma fumaça aromática envolveu as índias pecadoras. Fez as suas rezas, andou ao redor das jovens e, por fim, parou diante do Grande Chefe e iniciou o seu discurso:
- Grande Chefe, vós que tendes conduzido essa tribo com tanta sabedoria, mais uma vez, soube recorrer aos espíritos protetores da tribo para tomar uma decisão. E nossos Conselheiros Espirituais estão dizendo que essas jovens são inocentes. E dizem mais que essa tribo de agora em diante terá muitos mais descendentes, crescendo a fertilidade masculina, pois haverá muito mais desejo entre índios e índias. O “Pakova-Ju’a” chegou na hora certa. Novos tempos são chegados. O mundo se transforma e nossa tribo deve acompanhar essas mudanças.
- Mas, Pajé, todas as índias deverão usar “Pakova – Ju’a”?, indagou um dos Conselheiros.
- Ah! Isso fica por conta delas.
- E os guerreiros, Pajé?
-  Usem o que quiserem.
E o Pajé se recolheu para sua tenda.
O povo se levantou em tremendo alvoroço, em altos berros comemoravam com alegria os novos tempos.
O Grande Chefe deu por encerrado o julgamento e viu as rés correndo em direção as suas tendas e os jovens índios atrás, eufóricos.
Á noite, o Grande chefe trouxe de presente para sua mulher umas folhas de bananeira e outras de amoreira....
Na manhã seguinte, o guardião da horta veio se queixar para o Grande Chefe que alguém tinha roubado muitas folhas das bananeiras e o único pé de amora da tribo não tinha mais folhas...
O Grande Chefe, olhando para o céu, deu três tragadas no seu cachimbo e lançou a fumaça, com força, em direção às nuvens, respondendo ao guardião da horta, com voz firme e renovada: “Diga para o povo que os novos tempos são chegados! Ah! Plante mais amoreiras!”...
Três meses se passaram e o Grande Chefe mandou chamar o índio mais sábio da tribo e ordenou que o mesmo fizesse um levantamento para verificar se houve um aumento das grávidas na tribo e quantos concordavam com o uso do “Pakova-Ju’a”.
Uma semana depois voltou o sábio índio com a resposta estatística:
- “90% das índias estavam grávidas e 96% concordavam que as índias usassem Pakova-Ju’a”
O Grande Chefe olhou, nessa noite, para a lua que estava toda faceira no céu, lançou  três baforadas de seu cachimbo em direção a ela: e pensou: “Vai ser sob a lua, na montanha. Ela vai engravidar!” E sorriu marotamente para a lua cheia.






quinta-feira, 3 de abril de 2014

Trazendo recordações-Janelas para o passado



Sob os auspícios da saudade, um sentimento que nos conforta e nos coloca num estado de espírito surreal, um tanto inexplicável, lembrava-me, muitas vezes, de três filmes que fizeram parte de minha juventude, um pouco tardia, por razões da vida, são eles: Doutor Jivago, A Ponte do Rio Kwai e Assim Caminha a Humanidade. Todos os três intensos e de histórias magníficas, ainda mais para corações sonhadores, onde me incluía e quem sabe, embora a idade, me inclua ainda, pois sonhar é um privilegio dos corações errantes. Tanto era o desejo de rever esses filmes que fui para a Internet pesquisar e eis que comigo se encontram. Revi os três filmes e as mesmas emoções afloraram em mim, claro que mais calmas, mais meditativas. Quando vi “Doutor Jivago”, fiquei tão impressionado que deixei crescer um bigode igual ao dele, e assobiava o tema de Lara nos momentos de nostalgia. “Tema de Lara” que belíssima música, ainda me emociono quando a ouço. Agora mesmo, enquanto escrevo, os seus acordes soam em minh’alma. Revendo “Doutor Jivago”, revejo a mim mesmo, passa um filme daquele tempo de transformações sociais em que a humanidade se debatia, mas o amor entre dois seres apaixonados superava tudo. “Doutor Jivago” vai me acompanhar para sempre.

“Assim Caminha a Humanidade”, filme estrelado por Elisabeth Taylor e Rock Hudson, como protagonistas principais, e o jovem James Dean que mais tarde estrelaria “Juventude Transviada”,que deu inicio a uma metamorfose que grassou no seio da juventude da época. Também um belo filme. Mas, “Assim Caminha a Humanidade”, foi a história que já naquela época trabalhou o tema do racismo, ainda hoje tão em voga, infelizmente. Infelizmente, atravessei todo esse tempo de minha vida assistindo bestiais intolerâncias entre seres humanos. Este filme, traz-me a recordação, também, de outro tema bem atual, a luta da mulher contra a incompreensão masculina. Ainda o amor venceria todos esses preconceitos. Quão lentos somos nós, humanidade, nos caminhos da evolução moral. E o título do filme é ainda bem atual:e assim caminha a humanidade e assim caminhamos.
“A Ponte do Rio Kwai”, com William Holden e Alec Guineness, grandes atores, inesquecíveis atores. Este filme foi o primeiro que vi com minha namorada, futura esposa. Aprendi muito com a história, altivez, coragem, persistência, e sobretudo solidariedade e algo difícil de entender, nos dias de hoje, negociação para a sobrevivência de um ideal contra um realismo frio e cruel.
Como não ser feliz quando tendo o privilegio de ter vivido e vivenciado momentos tão preciosos. É preciso, por vezes, abrir janelas e deixar o passado penetrar para revigorar nossas energias. Não se trata de viver no passado e sim trazer recordações de momentos que não voltarão jamais, e que ajudaram a construir nossa vida. Recordar emoções que moldaram o nosso coração, ensinamentos que ajudaram a moldar o nosso caráter. Aprendia-se em casa, no cinema, na escola, com a música, com os filmes, com os amigos, o respeito, a fé, o amor. Não havia tanta desconstrução de valores, como hoje. Por isso janelas para o passado distante arejam nossos sentimentos, recarregam nossas energias e nos ensinam que o nosso futuro é uma integração do passado com o presente.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Minhas lembranças sobre "BONDES"

O "Bonde", transporte de pessoas que circulava do centro aos bairros de Porto Alegre, traz-me belas recordações de um tempo social que não volta mais! Era aconchegante, era idílico! Aproveitei na infância e na adolescência Eis algumas recordações interessantes, algumas folclóricas outras reais.
O "Bonde" funcionava à eletricidade e corria sobre trilhos metálicos.  

- Um bêbado, lá por uma da madrugada, onde os bondes já eram escassos, estava no antigo “Abrigo” de bondes, junto à Praça XV, esperando o bonde “Independência” (os bondes eram identificados pelo seu destino-os bairros de Porto Alegre e todos passavam por este abrigo, no centro da cidade). Estava, então, esse incógnito bêbado esperando o seu bonde, mas só passava bonde com destino ao bairro Glória. Lá pelas tantas, lascou ele, em alto e bom som, com sua voz roufenha e língua meio enrolada:
“Chega de Glória eu quero Independência”!

-      Quem entrasse num bonde veria o anúncio:
"Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado; no entanto acredite, quase   morreu de bronquite; salvou-o o Rhum Creosodato"

- Coisa interessante de se ver era o cobrador com uma das mãos cheia de moedas e notas, percorrendo o corredor lotado do bonde, cobrando, fazendo troco, e com a outra mão marcando com uma alavanca aérea o total cobrado. Tinha que ser um gênio na matemática!

- Nesse tempo, também se via, as pessoas mais jovens cedendo lugar para os mais idosos e os homens às senhoras.

- Era interessante de se observar que ao chegar no fim da linha (onde os trilhos terminavam) o motorneiro (assim se chamava o condutor do bonde), pegava uma ou duas ferramentas e ia para a outra ponta do bonde e o conduzia daí (Acho que os ingleses aplicaram o princípio da minhoca para inventar o bonde). O bonde, como a minhoca, tinha duas frentes.

- O bonde “Gaiola”, que possuía menos rodas do que os outros,  balançava muito sobre os trilhos.

- Uma frase que me lembro, dita com frequência, pelo motorneiro; “Mais um passinho, faz favor, há lugar no fundo do corredor”

Essa Internet é mesmo fantástica, veja o que encontrei, entre outras coisas:

http://memoriacarris.blogspot.com.br/2013/08/a-ultima-viagem-do-bonde-gaiola.html

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

GOOGLE-A BIOGRAFIA



Recebi, no Natal de 2013, de meu primogênito Ivanio Jr, o livro “GOOGLE –A BIOGRAFIA’, de Steven Levy. Júnior gosta de me dar livros. Já tenho uma coleção que ainda não li. Mas, este do Google, resolvi lê-lo, apesar das 460 páginas, de tamanho 15 X 23, bem cheias, pois fiquei curioso para compará-lo ao de Steve Jobs o fundador da Apple.  Dessas leituras aprendi muitas coisas novas e sobretudo admirar a inteligência dos dois jovens criadores do Google,Larry Page e Sergey Brim. Eles tiveram sua formação em escola montessoriana. Nunca tinha ouvido falar em método montessoriano de educação e olha que tenho acompanhado, nessa minha vida, e educação brasileira. Li sobre Piaget, Vigotsky, teoria do construtivismo, Paulo Freira (Ah! Paulo Freire, tenho que dar o meu “pitaco” sobre ele, oportunamente), mas não encontrei referência, nessas minhas leituras, embora leigas.
Então fui pesquisar um pouco sobre esse método montessoriano. E foi no Google mesmo que encontrei as respostas 
Quem tiver curiosidade pode começar em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_Montessori

A impressão final que tive dessa leitura é que se o Google for à falência, o mundo também vai!

E que aumentei mais o meu campo de ignorância! Aliás quanto mais leio, mais este campo aumenta!

Para que tenham idéia do que o Google faz conosco aí vai um trecho da página 419:

“Um pouco de compreensão sobre como os cookies funcionam nas redes de publicidade é necessário para se apreciar a questão. Quando um usuário visita um site que contém um anúncio de uma rede como a DoubleClick, o navegador automaticamente “joga” um cookie no disco rígido do computador do indivíduo. A informação permite que o site reconheça se o visitante já esteve lá antes e, assim, determine quais anúncios podem lhe ser interessantes, além de quais anúncios já foram exibidos para aquele usuário. Além disso, toda vez que alguém volta a visitar um site com anúncios, a visita fica gravada em um arquivo único com todas as informações do usuário. Com o tempo, o arquivo se desenvolve em um log enorme que oferece um perfil totalmente claro dos interesses do indivíduo...”

U F A ! Os “caras” são demais!
 Até aprendi um pouco mais sobre Anne Frank, p.373, acompanhem em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anne_Frank

Ah! Importante a filosofia do Google : “Don’t Be Evil”, é algo de se pensar introduzir em nossas vidas!

Do alto do meu anonimato quero agradecer aos fundadores do Google Larry Page e Sergey Brim pelo que estão fazendo de bom ao mundo!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

MINHA HOMENAGEM SINGELA AOS NEGROS

PORTA DE GORÉE

Disse-nos Castro Alves sofrida e inspiradamente em seu poema “O Navio Negreiro”:

“...Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é mentira...se é verdade
Tanto horror perante os céus?
...”

Kofi estava sentado à beira do desfiladeiro, sobre rocha granítica. Balançava seus pés e seus braços apoiavam-se na rocha, o vento lhe roçava a fronte. Não tinha nada e por isso nada tinha a cuidar. Contemplava o abismo a sua frente, lá embaixo o rio parecia um córrego. Pequenos pássaros, com seus cantos silvestres, quebravam a monotonia do silêncio. As  decisões de Kofi, nos últimos tempos, tinham sido desastrosas. Falira, sua empresa se fora como água pelo ralo. Afastara-se das pessoas, num ostracismo consciente. Não tinha mais ânimo, não queria mais viver, por isso estava, agora, ali. No turbilhão dos seus pensamentos, aflorou, entre outros, o que havia visto em Gorée, a ilha símbolo da escravidão africana. E nela a prisão onde eram trancafiados os negros que seriam exportados da África para o mundo. Lá havia, e há ainda como espada viva, a “porta da viagem sem retorno”. Era por onde passavam os negros escravos, dos porões dessa prisão para os navios negreiros que os levariam para além mar, às terras onde seriam escravizados. Kofi sentia a dor do negro que partia. Atrás da porta deixava sua vida, sua liberdade, suas crenças, sua tribo, seus amigos e parentes, sua terra. Após a porta, bem não sabia, o negro, o que realmente o aguardava, a não ser a certeza de sua escravidão. Fome, chagas pelo corpo, dor na alma. Kofi, tinha uma forte dor na alma. Nunca soube lidar bem com sua cor negra. Na faculdade, poucos amigos tinha, um ou outro, era mais chegado. Brilhante aluno, admirado pelos professores, mas sempre casmurro. Formado, trabalhou em algumas empresas, mas não se adaptava às regras e horários. Por fim, montou sua empresa de exportação de calçados e prosperou. Quis conquistar a África, pois sabia ter lá potenciais consumidores, mas sobretudo retornar para resgatar não sabia bem o quê talvez, aniquilar a nostalgia de seu espírito. Mas, não deu certo, perdeu a empresa para os sócios que se aproveitaram de sua inexperiência. A porta de Gorée, para Kofi, agora, era aquele precipício a sua frente, mas com uma diferença, ele sabia o que lhe esperava após transpô-la: a liberdade! Olhou para o céu e viu um enorme gavião planando ao sabor do vento. Subia e descia em longos círculos. Pensou: “É esta liberdade que eu quero!”. Levantou-se, recuou alguns passos e jogou-se no precipício, ao mesmo tempo que ouvia uma voz feminina a gritar desesperadamente por seu nome. Kofi, num relance, pode ver aquela que sempre amara, mas não tinha tido a coragem de confessar o seu profundo amor. “ Mas, como poderia se ela era loira?” Fechou os olhos, apertou as pálpebras e esperou. Ouviu pela última vez a voz amada repetir o seu nome em eco desesperador pelas paredes do abismo. Ainda teve tempo de pensar em algumas coisas e figuras humanas negras, vultos grandiosos iam desfilando celeremente nos seus pensamentos: Mandela, Marther Luther King, Joaquim Barbosa, Kofi Annan, seu pai.
Não pensou mais!
Libertou-se, como desejava!
Um grito estridente do gavião voador ecoou pelos penhascos.
Ela, horrorizada, na beira do abismo, viu o corpo de sue amado cair velozmente e diminuir de tamanho desaparecendo nas águas do rio.