quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Para Helenita

Você e Eu

O tempo é a contagem do nosso finito
E nesse finito começamos e terminamos
Não temos a dimensão, apenas a idéia
Notícias do antes e do depois
Somos consciências no presente: você e eu
Você é a dimensão dos meus sonhos
A janela que descortina a realidade
O caminho que me dá a direção
Uma incerteza no todo: eu e você
Eu sou o porto do seu olhar
O reflexo do seu sorriso
A caricia do seu afago
Sou a leveza e a graça do seu caminhar
Sou a explosão do seu vulcão
Você é a cor dos cabelos que imagino
O moldar do vestido que me seduz
O perfume que se desfaz nas minhas ânsias
A maciez por onde eu ando
Somos ainda incertezas: somos eu e você
Sou o recomeçar do seu recomeçar
Você é a esperança da minha esperança
Nessas incertezas e certezas
Nossos dedos se entrelaçam
Nossos corpos se aproximam
Neste momento a certeza: somos você e eu.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Semana Farroupilha

A Peleia das Botas

Numa coxilha gaúcha cuja alma resplandece
Na lua enluarada bem em cima no céu,
Fogueiras de fogo guasca alumiavam o redor,
De longe qualquer um via as chamas alumiar
Povo, em tendas de luz, espalhados, bem juntos
Na infinita planura do verde sem fim.

A cuia corria de mão em mão acariciada
Tal qual o seio da amada morena
No silêncio do amor carnal.
Cada sorver era lento, sorvendo a vida
E o amargo da erva-mate era a doçura
Que alimentava o pensamento e a alma aquecia.

Na calada da madrugada ali se assentavam
De primeiro, antes do sol apontar sua orelha,
Vultos que, em seu tempo, alumiavam os pagos
Com seus feitos e bravuras, destemor e lealdade
A defender seus ideais com lança e sangue
Até a morte lhes tombar.

Bento Gonçalves e seus generais
Ainda bem vestidos com suas fardas farroupilhas
Traçavam estratégias pra ainda vencer
Não mais Laguna o porto, mas Rio Grande,
Seria pro mar a saída, para o charque vender.

Sem serventia o matreiro Saci-pererê
Com cachimbo no canto dos beiços
Pulava em uma perna só
E no descuido dos guascas, trocava chapéus e palas
E se a desatenção fosse grande maneava a cavalhada
Deixando enfezada a gauchada dos pampas.

Então, Bento Gonçalves, o grande comandante
Um plano esperto engendrou:
Chamou o General Neto que entendia dos negros
E mandou que prendesse o serelepe Saci-pererê.
Pendurasse, pela única perna, o negrinho
Numa réstia de luar e lhe entregassem o cachimbo
Pois, com ele iria negociar.

Feito a malvadeza, o negrinho a espernear
Se acercou o comandante e pôs-se assim a falar:
Esse cachimbo só te devolvo depois da tarefa acabar
Vá até ao Moringue e o intrigue com Bento Manuel
Só depois do fato consumado
Volte aqui para receber de volta o cachimbo.

Foi o pererê montado na madrugada
A cumprir tão árdua missão
Já lastimando a falta do torto cachimbo
Que sempre o ajudava a campear.
Se acomodou na sela da coxilha
Pensando qual o plano que iria bolar
Mirou as estrelas infindas
E uma delas lhe disse :
Roube as botas dos dois.

Lá se foi, qual corisco, o negrinho.
Surrupiou as botas de Moringue e também
As de Bento Manoel .

Ao aceitar a oferta, Bento Gonçalves,
Pro negrinho o cachimbo devolveu
Pois se os dois, sem botas, não brigassem
Pelo menos um bom tempo sem elas andariam.
Ordenou, a dois farroupilhas, que pendurassem
Em boa forquilha, os dois pares de botas.

Pelas tantas da noite um alvoroço se fez:
Era tinir de esporas e voar chumaços de capim,
Em roda, a peonada, fazia matinada.
Foi ver Bento Gonçalves qual era a façanha
E sua surpresa foi tanta ao ver
Os dois pares de botas numa encarniçada peleia
Que rompendo campo a fora enroscadas
Se perderam no horizonte.
E de lá, bem dos confins, se ouviu
Uma risada estridente, muito maleva,
Que só podia ser do negrinho safado,
O pastoreador Saci-pererê.