terça-feira, 15 de agosto de 2006

Algumas Poesias Preferidas

CÁLICE

Traga-a de volta, meu cálice!
Não me torturem mais as recordações
Dos doces instantes dos seus encantos
Já não suporto as tuas emanações
E dela, a ausência, nos doces cantos.
Traga-a de volta. meu cálice!
Quero sorvê-la novamente
Aos poucos, lentamente,
Ouvir os seus gemidos
Ternos e ungidos
O seu olhar ardente
Falando-me loucamente
E seu corpo desfazendo-se
No meu intensamente.
E, talvez, o último gole sorvendo
Te despedace no chão, meu cálice
Junto da paixão que me faz morrendo
Suplicar a ti, que já não está mais vivendo:

Traga-a de volta meu cálice!

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Mulher Amante

As entranhas, aos poucos, o amor consome
Magma do vulcão que explode e some
Vens, provocas,te instalas e etérea te vais
Em mim, doloridos, rios de ais
Petrificam em lavas colossais.
Navegas dentro de mim alegremente
Depois partes, assim, tão docemente
Dizendo voltar em tom irreverente
Me deixando a lembrança do teu ventre
Em ondas de sensação efervescente.
Clamo por ti nas noites frias
Do deserto da tua ausência sentida
Me enrosco, me encolho, mas me esfrias
A alma, o corpo, a minha vida partida.
Vem, mulher amante, derrete em mim, teu vulcão
Dissolve-me e arrasta contigo o que restou
Nos acordes sonoros do colchão
Nos ardentes momentos de ilusão.

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Ânsias

Quantas ânsias o homem se impõe
Ao sucumbir aos desejos,
Ao mergulhar nas tenras carnes
De uma caprichosa mulher.
Não, não vou sucumbir aos teus caprichos
Aos teus encantos, aos teus beijos,
Aos teus seios macios.
Não! Não vou! Hás de ver!
Espero por ti nas praias do verão
Nas noites frias do inverno
Na minha solidão...
Mas não vou sucumbir
Aos teus caprichos de mulher
Não! Não vou! Hás de ver!

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POEMA SOBRE O ROMANTISMO

(Novo Hamburgo, 28/04/2006)

Espanta-se a França ao brado da liberdade!
Ergue-se altaneiro o lábaro dos Românticos,
O sentimento sepulta a realidade
No Brasil, aos primeiros evasivos cânticos.

Minha Terra tem palmeiras
A natureza saudosa das flores
Antônio Gonçalves Dias, do exílio, além fronteiras
Chora e canta a dolorosa ausência dos seus primores.

Casimiro de Abreu, pueril poeta
Saudades da infância querida
O sonho, a fantasia, n’alma inquieta
Amor e medo cavam colossal ferida.

Amargura, intensos amores melancólicos
Venturas perdidas, tédio e desesperança
Lacrimosos poemas, outrossim, tão bucólicos
Amálgamas etéreos, sentimentos em lança

Castro Alves, tocha do condor poeta, lastima
Se é mentira...se é verdade?
Lâmina poética de profundo estigma
Do negro navio, da negra tempestade.

Muito, muito além Sousândrade
Estranho condor no ninho
Encerra com "Guesa"o Romantismo
Sacrificando ao deus Sol o menininho.

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Ode aos desgraçados

(N0vo Hamburgo, 10/08/06)

Diante de ti, oh! Dor, deponho meus sentimentos
Armas que tenho diante da besta humana.

A criança, berço da inocência, é encarcerada
Não vive mais, não renasce, é esquecida
Por quê? O que é isso? Como funciona?
Criança perturbadora, curiosa, inventiva
Domesticamos o anjo ao canto adulto
Deponho a INOSCÊNCIA!

Rios de sangue percorrem as estradas
A fé como escudo defende a insanidade
Imortal e perene a besta humana segue
Os irmãos em feudos se encarceram
Que morram os outros, acabou-se
Deponho a PAZ!

Dos corações fluem palavras de fogo
Incendeiam-se as almas, o olhar mata
Agiganta-se a besta humana, explode, destila
Sobra a alma, perdida, abandonada, sofrida
Restos dilacerados de desgraçados
Deponho a FRATERNIDADE!

Procuro no jardim das palavras
As mais lindas e perfumadas
Para fazer um buquê de imagem
Espelho de ti, minha amada.
Quando me chegas, tuas lavas me envolvem
Queimo por dentro e por fora, uma loucura!
Meu olhar desliza pelas coisas tuas, nuas
Tremo ao teu toque, sinto que estremeces
Nosso olhar nos emudece, articulamos apenas
Nossos dedos se entrelaçam, estamos juntos
Brotas em mim e eu em ti
E essas palavras? Enfim,
Somos, um lindo buquê!
Deponho, aos teus pés, oh! Dor,
O AMOR.

Deponho, diante de ti, oh! Dor,
A Ética, a virtude, os valores, a bondade
A fé, o senso e a solidariedade
Faça de todos esses sentimentos, Dor,
Uma fogueira imensa
Pois, muito a besta humana já queimou
Livros, cidades, seres mulheres e homens
E também animais. Tudo já incendiou!

Sou, porém, peregrino do Universo
E a besta tem também o seu anverso
Não deporei diante de ti, oh! Dor
Ode, talvez única, dos desgraçados,
A ESPERANÇA!

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