terça-feira, 24 de outubro de 2006

Uma réstia de Vinicius

Um copo de whisky varando a madrugada
Alternando-se com a pena que desliza
Chamando a poesia que chega
Doce às vezes, outra arrebatadora
Sempre o amor, a busca constante
A dor da ausência chorando
E também inspirando
Os goles se sucedem
As palavras simples e poéticas deslizam
O orvalho molha o vidro da janela
A lua espia pendurada na noite
O poeta sobe e desce
Quer desapegar-se, não consegue
A vida o prende, a poesia o liberta
O poema se cria, cresce aos poucos
E a garrafa se esvazia, a mente levita
O coração palpita forte
Suspira, o dia chega
Despede-se da noite
A poesia está pronta

sábado, 21 de outubro de 2006

Colhendo Você

O balão é belo nas suas multicoloridas visões
Mas seu mistério é explodir
Enquanto não explode enfeita
Explodindo em pedacinhos
Estoura a alegria inconstante do ser
O belo tem que explodir
A flor tem que murchar
O rio vai para o mar
O amor é como a rosa
Se colhido como botão
Não desabrocha
Se colhido muito tarde
Em breve despetala
Tenho que colher você
Em tempo certo
Prender você
Não deixar flutuar
Nem explodir
Nem murchar, nem despetalar,
Nem ir para o mar, sem mim
Tenho que colher você
Para resplandecer nos meus dias
Como se eu fosse o oceano
Que reflete, do sol, os raios
Como se fosse a noite
Que enlouquece ao luar
Com mil olhos de estrelas
Pestanejando de longe, muito longe
Espiando você, perdida sem mim
Buscando alguém que não sou eu
Tenho que colher você
Antes que seu perfume se vá
Que seu cheiro de rosa esmaeça
Nas suas pétalas murchas
Antes que a saudade me faça
Peregrino da nostalgia
Pertencendo ao vento
Que desgasta a rocha
De grão a grão, em vão.