terça-feira, 5 de novembro de 2013

CARTA MANUSCRITA OU E-MAIL?



Nos dias atuais esta pergunta não tem sentido, não é mesmo? Mandar uma carta para alguém, só um doidão, antiquado.. 

Carta? Mas o que é carta? 

Você pode dar uma conferida nas definições sobre carta em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carta

Exemplo de envelope de carta

Carta antiga


Quando se escrevia uma carta, antigamente, se enviavam notícias de pessoas para outras pessoas, ou de alguém muito especial para outro alguém também especial. Normalmente, de pessoas que moravam distantes umas das outras. Mas, não só isso, é claro, existem muitos tipos de cartas, até cartas bombas, mas quero deter-me naquelas que foram substituídas por e-mail. Aquelas que estreitam relações.
Essas cartas eram escritas em papel especial, de tamanho especial e quando se tratava de cartas de amor o papel era, quase sempre, colorido e mais fino. Nas cartas bem mais antigas, digamos, início do século vinte, era comum usar-se expressões como “...nessas mal traçadas linhas..”, “...estou com os olhos rasos de lágrimas..” “...pego na pena para escrever...”, expressões que no passar dos tempos foram sendo deixadas de lado. Quantas amizades foram mantidas através das cartas, muitos casamentos foram consumados porque as cartas mantiveram as juras de amor perenes. Chorava-se saudades, o sofrido amor da ausência do ente amado era traduzido em belas palavras. Com o tempo, bem guardadas, amareleciam e relidas reconduziam a um passado saudoso repleto de sentimentos. Escrever uma carta era um ritual quase místico. Uma escrivaninha, papel de carta, caneta tinteiro nas mais antigas...silêncio. Na maior das vezes eram escritas à noite, quando as estrelas e a lua serviam de inspiração. Havia que pensar antes de escrever, pois apagar depois de escrito era impossível, uma rasura não se admitia, só jogando fora o papel que já estava escrito e, imaginem, se o erro fosse no meio ou fim da página. Rescrever tudo novamente, já deixava a originalidade de lado e a sequência do pensamento seria interrompida e a inspiração, muitas das vezes, se perdia. As cartas eram manuscritas, mesmo com o advento das máquinas de datilografia que por incrível que pareça elas não tiveram, nos lares, a mesma penetração dos computadores. Um fenômeno a ser explicado, talvez, pelos sociólogos ou economistas
.Uma carta tinha um texto bem elaborado, bem mais extenso que os reduzidos e-mails de hoje. Primava-se pela polidez no tratamento com as pessoas. Iniciava-se uma carta com o local e data de onde o autor estava, e em seguida uma saudação. No final, sempre votos de saúde e bem-aventurança para o destinatário e os seus. E depois de escritas, bem dobradas e envelopadas, ia-se aos Correios, onde se comprava o selo e eram enviadas com a esperança de que chegassem ao seu destino e produzissem o efeito, o mesmo que havíamos sentido ao escrevê-las.
As cartas sempre foram mensageiras de sentimentos e tanto é assim que os compositores e poetas as têm reverenciado com músicas e poesias. Basta procurar na Internet e serão encontrados músicas, sobre elas, desde os tempos de cantores sertanejos mais antigos. Coloque lá “cartas antigas” , ou simplesmente cartas, e surpreenda-se.
Pessoalmente, as cartas tem marcado a minha existência. Um elenco delas, foram as românticas cartas que troquei com minha namorada, ela em Porto Alegre e eu na cidade de Rio Grande, onde cursava engenharia, nos anos de 1963 a 1966 Foram essas cartas que mantiveram nosso romance vivo até nos casarmos. Outra carta foi a que deu origem ao conhecimento de minha família e me permitiu iniciar a construção da árvore genealógica. Carta, manuscrita, que enderecei a uma parente, descoberta por ler seu nome em jornal, isso em 1965.
Outra carta interessante me apareceu 49 anos depois de ser escrita por uma colega da Faculdade de Filosofia da cidade de Rio Grande em referência a uma coluna que eu escrevia no jornal da Escola de Engenharia. Ela é interessante, pois me foi enviada em 27 de setembro de 2013 pela autora da carta a qual me encontrou no Facebook. Vejam, 49 anos depois de ser escrita, já não me recordava mais dela. 
Cartas são memórias manuscritas de nossos momentos de vida e que guardam nossos sentimentos os quais vivificamos e, não recordamos tão facilmente. Tenho um amigo de longa data que perpetuou as suas cartas de amor que trocou com sua namorada durante muitos anos, desde o conhecimento até o casamento. Essas cartas, ele a publicou em livro do qual tenho um exemplar autografado.
Você que ama alguém experimente pegar um papel de carta em uma livraria, uma caneta, não uma esferográfica qualquer, coloque a música de sua preferência, e no recôndito do seu quarto, pense nela (nele) e deixe que seu coração dite as palavras e as escreva com a sua caligrafia. Se você estiver bem apaixonado mesmo junte à carta escrita uma ou duas pétalas de rosa e ponha tudo dentro de um envelope bem bonito e envie para ela(ele). 
Uma carta é um ato de coragem e envolve muitas decisões de nossa parte: escrever correto, ser coerente com as idéias, escolher as palavras certas compondo frases suaves, macias, polidas. E, sobretudo, vencer a nossa inércia e preguiça. Claro que, também, uma carta pode ser ofensiva, maléfica, deprimente e chorosa. Depende de nosso estado de espírito. E, como eu disse no início pode ser até uma carta bomba. Interessante uma carta deste tipo jamais poderá ser enviada por e-mail. 
Não use e-mail para esses momentos!
E-mail!!!  É rápido, simples e conciso, útil nos dias de hoje quando temos pouco tempo para tudo. Mas, não encerra em si mesmo a aureola de mistério e de satisfação do que uma carta. O e-mail é sobretudo fruto da era do computador, onde quase tudo é instantâneo. Claro que você pode anexar uma carta de amor, uma poesia, num e-mail, mas jamais terá a magia da letra manuscrita que é uma extensão das reações de nosso corpo. “Ah! Essa é a letra dele (a)!”
Quantas cartas manuscritas você já escreveu em sua vida?