terça-feira, 26 de junho de 2012

Nos dias de hoje, Um comentário inusitado!

Meu Giga amigo Ivânio: boa noite, tudo bem?




Não é nenhum segredo para ti que já li o teu livro UM RIO ENTRE NÓS e gostei em dimensões fora das expectativas comuns. Sem querer rasgar seda é só ler a opinião do Germano Moehlecke que não deixa dúvidas. Mas, manipulando o livro pela segunda vez com vontade de relê-lo não pude conter as lágrimas ao viajar no tempo pela belíssima e emocionante dedicatória que fizeste. É difícil dizer através de palavras o que sinto no momento. O que posso passar para ti é o grande valor que dou a esta obra escrita com tanto esmero e cuidado; com tanta perfeição, que sempre que posso e tenho oportunidade a difundo e propago entre meus amigos e conhecidos que labutam por causas nobres na comunidade. Não queria deixar passar mais tempo sem te dizer estas palavras de admiração. Sei que não são nem parecidas com as que me enviaste por ocasião do lançamento do meu livro e de minha esposa, que estão bem guardadas em meus arquivos e que pretendo mantê-las pelo resto da vida, mas o que te digo é do fundo do coração. Parabéns a este grande homem chamado Ivânio Habkost, que merece ser seguido e imitado como modelo exemplar. Deus guie os teus passos com Sua luz e paz bem como os de tua família.



Teu amigo de sempre agradecido,



Ivan Hoffmann

terça-feira, 5 de junho de 2012

P I C A C H Ú - Um cão fora de série!

P I C A C H Ú - Um cão fora de série!

Picachú em 2014 - com 14 anos

Nascido em Junho de 2000 em Sertão do Santana-RS
Falecido em 12 de Julho de 2014 em Novo Hamburgo


Era uma tarde bela, daquelas com sol radiante e quente. Claro era um bom verão. Uma pequena e estreita estradinha com capim no meio e dois sulcos cavados pelas rodas dos automóveis, pintados vez por outra por montículos de estrume que transmitiam um cheiro característico, lembrando que por ali, também passavam, vez por outra, algumas vacas. Lado a lado lhe acompanhavam duas cercas de arame farpado fixados em moirões já meio carcomidos pelo tempo, alguns arbustos de folhas miúdas, uma árvore maior aqui e ali, onde alguns passarinhos se debruçavam preguiçosamente coçando suas penas. Mais ao longe, no campo, um gado distraído ao mundo, mas concentrado no pastar, se desenhava na colina, contra o céu azul do horizonte. Tal era a estradinha que ligava a rodovia à moradia principal do sítio. Um atrativo e aconchegante lugar. Ao chegar, caminhei, respirando o ar puro, com alguns cheiros característicos de um sítio e escutando sons que amigavelmente a natureza nos oferece, algumas galinhas soltas ciscavam por ali. No jardim, bem cuidado, as multicores petúnias e rosas vermelhas, contrastavam com o verde da grama bem aparada. Caminhei em direção à casa, olhei ao redor, e após alguns cumprimentos perguntei por ele. Ao lado da casa, preso a uma goiabeira, com uma corda curta, o encontrei. Cheguei-me e apesar de amarrado à árvore pulava ao reconhecer-me. Acariciei a sua cabeça, olhei em seus olhos. Olhar de alegria, de exultação eu diria, felicidade ao rever-me. Alguns meses tinham se passado sem que nos víssemos. Um som gutural escapava de sua garganta. Um som semelhante ao que os humanos emitem quando gemem por amor. Era a primeira vez que eu sentia esse som vindo daquela criaturinha. Até hoje ele fala comigo assim. Preso a uma árvore e um imenso mundo de alegria ao seu redor sem poder desfrutar. Naquele momento decidi. Vou levá-lo comigo. E o trouxe para tomar posse do seu novo território. Estreitou-se, então, uma amizade. Um homem e um cão, talvez , seja melhor, entre um cão e um homem. A nossa história começou quando meu neto Bruno apareceu com o bichinho, uma bolinha redondinha, corpo manchado de preto e branco, ao redor dos olhinhos pintinhas amarelas, essas cores características da raça fox. Orelhinhas em pé, olhar brejeiro. "Vô, trouxe um cachorrinho, o nome dele é Picachú".

Ah! Então, claro, as perguntas de praxe, onde ele vai ficar?, quem vai alimentá-lo? Levar para fazer xixi? E coisas do gênero, quando se tem algum animalzinho em um apartamento. Silêncio, olhares se cruzando, expectativa. Sobrou pra quem? Pro avô, é claro. A convivência com as diabruras do Picachú começaram bem cedo. No apartamento havia um corredor comprido, de largura mais ou menos um metro, cobrindo o chão como piso, aqueles ladrilhos hexagonais cor de telha, uma porta em cada extremidade. O Bruno ficava numa ponta e atirava uma bolinha e lá ia o cachorrinho, em corrida louca, atrás da bolinha.

O Picachú inventou uma brincadeira interessante. Eu adquiri uma caminha de lona colorida, amarela e pequenos desenhos de cor vermelha e preta, tipo um iglú, bem para o seu tamanho. Pois, o Picachú se colocava numa das pontas do corredor e de lá vinha com toda a velocidade que podia e se lançava dentro do iglú que virava ao impacto, rolando casinha e animalzinho. Era uma festa só. Desde pequeno ele se mostrou um cachorro muito brincalhão e inteligente. E assim ele crescia divertindo-se e nos divertindo. Quando já um pouco maior e suas peraltices eram demais para viver enclausurado dentro de casa resolvi levá-lo para um sítio. Quando sobrava um tempo dava um pulo lá para visitá-lo. No início, bem ao modo da vida humana, corria tudo bem. Mas aos poucos algumas queixas começaram a aparecer. Ao indagar, quando o encontrei preso na goiabeira, a justificativa foi de que o Pícachú andava perseguindo galinhas, e que até já tinha matado algumas.

Decidi, então, levá-lo comigo, pois já estava morando numa casa com pátio. O seu novo território é razoavelmente grande. Ele encontrou aí a liberdade de locomoção e pequenos refúgios, pois tem espaços gramados para suas corridas, pequenos arbustos onde pode se esconder. Ao fundo uma reunião de bananeiras formam um recanto, onde ele seguido vai xeretar. Na frente, tem alguns lugares, seus preferidos. Um desses é embaixo da casinha de madeira que pertence ao Bruno. Esta casinha está construída junto a um enorme angico, ao estilo tarzan e o Picachú gosta de estar aí, pois no verão é fresco e nos dias frios ele cava buracos e aí se deita. Dando acesso ao pátio, um portão de grade permite ver o que se passa na rua o que ele aproveita bem para bater um papo com alguns cachorros da vizinhança, mas principalmente, latir e correr ao longo do muro dianteiro à caça do carteiro. Nesse novo ambiente fomos, aos poucos, nos adaptando um ao outro. Ao sair para o pátio, ficava ao meu redor e, se eu me enfurnava na garagem dos fundos, lá ficava ele na porta, deitado, a esperar-me, de tal sorte que sabiam sempre onde eu estava.. Aproveitando essa proximidade que ele me proporcionava, aos poucos fui exigindo dele certos comportamentos. Nunca perguntei a ele se estava de acordo. Eu sempre tive na cabeça que "macaco é macaco, menino é menino", como diz o Falcão. Quer dizer cachorro é cachorro. Então eu lhe ensinei que não deveria entrar dentro de casa e até hoje, obediente, ele chega até a porta, senta ali e não entra. Ao anoitecer de certo dia, fazia um frio de "rachar", como costumamos dizer aqui pelos pampas, eu defronte a lareira me esquentava bem acomodado. O fogo a crepitar em labaredas aquecia o ambiente. Olhei para a porta fechada e na varanda externa, estava o meu cão me olhando. Fixei o meu olhar no dele, através da vidraça, e após no seu corpo. Tremia. Ele treme até hoje quando chega perto de mim e quer alguma coisa.

Levantei-me, fui até a porta, abria-a e o convidei-o para entrar. Não precisou um segundo convite. Como um raio se aconchegou sobre o tapete e ali ficou admirando o fogo. Como sou um ser humano, tasquei "É só hoje, não vai te acostumando não!". "Cachorro é cachorro!". Ele com a cabeça descansando sobre as patinhas, só mexeu com os dois olhinhos, observando-me. Foi o meu primeiro contato com aquele tipo de olhar. Um olhar misto de inquirição com agradecimento, não dá para definir bem em palavras, este olhar. Tem outras coisas que ensinei para ele. Uma delas é dar-me bom-dia quando abro a porta pela manhã. Ele senta, me olha e levanta uma das patinhas. Eu a pego e nos cumprimentamos. É assim que começamos o nosso dia. A lição mais recente é de "fazer-se de morto". "Morto, Picachú, morto Picachú!" é a minha ordem e lá se deita ele todo esticado no chão, patinhas pra cima. A lição ainda não está completa, quero que ele aprenda a fechar os olhos também. Num 2 de março, aniversário do Bruno, toda a meninada reunida em festa e brincadeiras, mantive o Picachú preso à sua casinha a fim de evitar algum constrangimento. Depois que a gurizada se divertiu, inclusive, assistindo uma pecinha teatral, falei para eles: "Agora, vamos lá para fora que eu tenho uma surpresa!". Fui buscar o Picachú. E começou o seu show. Eu atirava um balão para cima e, aos gritos frenéticos da petizada, o Picachú corria atrás do balão atirando-o para o ar com seu focinho. Em saltos acrobáticos e corridas em ziguezague, perseguia o balão que voava ao sabor do vento e direcionados para cima com o focinho dele, como quem cabeceia uma bola. Depois fizemos a demonstração da nossa brincadeira predileta. Eu segurava uma garrafa de plástico (previamente preparada pelo próprio Picachú. Ele ainda hoje prepara essas garrafas. Com as mandíbulas amassa toda ela até ficar tipo uma lâmina), e o Picachú pulava e tentava agarrar no ar a garrafa para retirá-la de minha mão. Sucesso total. Tomou conta do espetáculo, todos queriam segurar a garrafa. E eu pensei que ele, cachorro, iria morder a gurizada! Homem é homem! Esse tipo de brincadeira continua até hoje. Quase sempre é ele quem começa. É o seu recado para comunicar-se de uma maneira prazerosa. E ele brinca assim com todos. O Bruno adora. Vamos agora conhecer outras facetas desse cãozinho diferente e quase humano. Certa tarde, cheguei até a varanda e vi que o portão de entrada estava aberto; é desses portões largos e altos, feitos de ferro, e movidos por comando eletrônico. Associei logo que o Picachú teria saído. Não deu outra. O Picachú fugiu! Sabe, leitor, aquela sensação de impotência que de nós toma conta diante de uma impossibilidade? Pois é, nesse momento ela tomou conta de mim. Mil pensamentos negativos me assolaram, até o mais pessimista. Bem, fiz o que tinha que fazer. Peguei a corrente dele e saí pelas ruas a procurar. A cada rua que entrava, meus olhos a percorriam até onde podia, perscrutava cada pátio, via em cada cachorro à distância, o meu cachorro. Ele estava me fazendo passar por uma nova experiência, a sensação de perda, sentimento que cria um vazio e nos conduz a uma sensação de impotência diante do desconhecido. Depois de muito caminhar, quase desistindo, e de recriminações pessoais por tê-lo deixado escapar, olhei para um pátio aberto, coberto de grama, e lá no fundo, o Picachú, numa boa, a brincar com outros companheiros. Quando me viu, levantou a cabeça, suas orelhas se empinaram, aliás, uma só, pois uma delas não levanta totalmente, a cartilagem é quebrada.
Então, uma orelha em pé e a outra com a ponta curvada, me viu, ficou parado, estático. O que estava se passando em seu cérebro? É difícil dizer. Se fosse eu talvez, talvez não, seguramente, eu pensaria: "Me achou. Vai me levar, droga!". Esta foi sua primeira aventura fora de casa. Sua primeira fuga. Ocorreram muitas outras. E apesar dos castigos que eu lhe impunha elas continuaram. A última fuga, a mais espetacular, ocorreu num carnaval. Também, foi a última, porque resolvi arrumar definitivamente a parte eletrônica do portão. Eu denominei essa peripécia de "Fuga de malandro". Aconteceu, a hora, não sei bem, mas era véspera de carnaval. Desta vez não o encontrei em parte alguma da cidade, percorri os lugares anteriores onde o havia encontrado, fui mais além, tudo em vão. Tinha quase a certeza de que alguém o tinha seqüestrado. No dia seguinte a sua fuga, levantei bem cedo para deixar o portão aberto, na esperança de que se ele voltasse não tivesse dificuldade em entrar. Pois, qual foi minha surpresa quando fui até a calçada, e vi um carroceiro, desses trabalhadores que juntam papéis e outras coisas para reciclar, se acercando da minha lixeira. Junto com ele, acompanhando a carroça, meia dúzia de cães e no meio deles o dr. Picachú, todo faceiro, bem enturmado, parecia que aquela já era sua turma a longo tempo. Chamei-o e ele entrou rapidamente para dentro do pátio. Fechei o portão e fui com ele ter uma conversa de homem para homem, como se diz. Sensatamente sentado sobre as pernas traseiras, com a cabeça voltada para mim e aquele velho olhar de concentração, escutou tudo o que eu tinha para dizer para um cachorro fujão. Falei das pulgas que provavelmente tinha pegado dos outros cachorros, possíveis doenças que poderia contrair, que dormir fora de casa não é legal para um cachorro de família, que eu não o estava criando para ser um vira-latas, que a convivência com esses tipos de cachorro, desses que andam perambulando pelas ruas, só traria maus hábitos. Sem falar no tipo de alimentação, muitas já cheia de bactérias, logo ele que só comia ração, quando muito ganhava um osso, nos dias de churrasco. Desfilei para ele uma enorme ladainha de bons costumes, de comportamento, de boas maneiras. Disse que ele era um mal agradecido porque tinha tudo naquele pátio, ração, água fresquinha, minha amizade, e tudo o mais. A tudo ouvia impassível, com olhar fixo em mim. Quando dei por terminado o sermão ele saiu correndo e pegou a garrafa de plástico para brincar! Ele é assim, não reclama de nada, aceita tudo numa boa, mas também me parece que não leva muito a serio certas coisas que eu digo. Fico pensando, puxa ele aprende o que lhe ensino, será que entende os meus sermões, ou se faz de desentendido? Eu tenho feito alguns testes para ver até onde vai sua inteligência. Um deles é quanto aos lugares onde ele faz cocô. Um dos locais em que eu não gosto que ele faça cocô é do lado da casa onde as pessoas transitam. Você, leitor atento, já pisou, sem perceber, num cocô de cachorro e entrou dentro de casa, pisou sobre o tapete, e daqui a pouco começa a sentir aquele cheiro? E limpar o tapete depois e, também o sapato? Pois é, num destes momentos de raiva por acontecimentos como esses de que falo, chamei o Picachú para perto de um daqueles montículos que ele havia depositado por ali. Ele sabe muito bem quando eu o chamo para alguma recriminação. A maioria das vezes ele se esconde em sua casinha e eu tenho que puxá-lo para fora. Arrastei-o até o lugar onde ele havia feito o cocô, obriguei-o a olhar e coloquei o seu nariz bem perto e então lhe falei, dessa maneira enérgica que só os poderosos e cheios de razão falam: "Não quero que faças mais cocô aqui, entendeu bem!"
Novamente aquele olhar que não consigo descrever. Penso comigo: "Acho que ele entendeu!" Passa-se algum tempo sem que ele deposite por ali as suas fezes, mas depois recomeça. Bom, resolvi retirar desses lugares o cocô. É uma decisão de convivência mais amena, sem stress para os dois.
Eu, como bom dono, levo, anualmente, o Picachú ao veterinário para fazer suas vacinas e por causa disso ele tem boa saúde. Apesar disso ficou seriamente doente. Contraiu uma doença muito séria. Foi um danado carrapato que se grudou em sua pele e lhe inoculou no sangue um virus. Passou maus dias, mas com medicação e alimentação adequada superamos tudo. Tem, hoje uma saúde muito boa.

Vamos falar um pouco da suas relações. O Picachú também tem suas manias. Uma delas é não permitir que outro animal pise no seu território, aliás nisso é bem parecido com os humanos. Já matou meia dúzia de gatos que invadiram o seu território e corre a espantar qualquer passarinho que se aventura a descer no pátio. Não posso condená-lo por esta falta de sociabilidade com seres que não são da sua espécie. Já com os outros cachorros tem um bom relacionamento, com os quais aliás, convive muito bem, desde que sejam do seu tamanho, pois detesta os cachorros grandes, com os quais quase sempre, quando possível se engalfinha e sai perdendo.

Por razões imperiosas me mudei para uma nova cidade e o Picachú teve que ficar sozinho no seu território, embora diariamente a empregada do vizinho, contratada por mim cuidava dele. Certo dia recebi um telefonema dela dizendo que o Picachú tinha fugido e brigado com um cão bem maior do que ele e estava todo ferido. Fui vê-lo e o levei no veterinário que lhe fez os curativos necessários, receitando algum antibiótico. Reforcei a cerca por onde havia fugido e consegui mantê-lo sem sair do pátio. Nos fins de semana nos víamos quando para lá eu me dirigia.

Acabei vendendo a propriedade e tive que trazer o Picachú para a nova casa. Não havia pátio suficiente e tive que confiná-lo numa espécie de canil. Foi uma terrível transformação para ele, pois na residência anterior ele tinha um enorme pátio para correr e se distrair, agora estava ali confinado. Ele, apesar disso, estava sempre disposto e compreensivo. Sentia-se feliz quando eu brincava de garrafa com ele. Mas, a sua veia de cachorro fujão não estava entorpecida. Um descuido e lá se foi ele. Procurei por ruas próximas e não o encontrei. Achei que o havia perdido, pois numa cidade maior é muito mais fácil de ele sumir. Procurei durante todo o dia, ao voltar do supermercado, à tardinha, vi o Picachú se arrastando pela rua em direção à casa. Parei o carro para colocá-lo para dentro e vi que estava todo ensanguentado, tinha um corte profundo perto da garganta, e outro no lombo. Tinha brigado, com certeza, com outros cachorros. Levei-o imediatamente para uma clínica veterinária. O Veterinário o examinou e disse que faria o possível para salvá-lo, embora os ferimentos fossem muito graves. Deixei-o naquela noite na clínica e fui buscá-lo no dia seguinte. Estava todo enfaixado e muito inchado. O Veterinário disse que tinha feito as suturas necessárias e receitou antibióticos que eu deveria dar rigorosamente durante os dias seguintes. Pois, o Picachú resistiu, se recuperou e hoje voltou a ser o cão brincalhão que sempre foi. Hoje estamos morando em outra casa e ele está no pátio dos fundos. Uma boa área onde pode correr e brincar. Volta e meia o levo para passear na rua, mas bem amarrado para não fugir. A última peraltice que fez, foi muito interessante pois demonstrou muita persistência e luta para atingir o seu objetivo. Foi quando estava construindo minha nova residência. Levei o Picachú para cuidar os materiais. Fiz um pequeno cercado e o deixei para passar a noite como cão de guarda. Ao chegar no dia seguinte o encontrei na rua brincando com alguns cachorros da vizinhança. Como eu precisava que ele ficasse de guarda, fiz um cercado maior. No outro dia pela manhã, encontrei novamente o Picachú na rua todo embarrado. Pois o danado cavou um buraco na terra, por debaixo do portão de madeira e por ali saiu. Acho que passou toda a noite cavando o buraco. Então, desisti de deixá-lo como cão de guarda. Sei lá o que se passava em sua cabeça, talvez sensação de abandono, desespero ou só malandragem mesmo.

Essa é a história de um cão fora de série. Até aqui, pois o Picachú esta com 12 anos e com boa saúde, talvez apronte outras. E de fato aprontou. Certa madrugada ouvi barulho no pátio, miar de gato e grunhir do Picachú. Levantei e fui ver o que se passava. Pois o danado estava abocanhando um gato preto que havia invadido o seu território. Corri para separá-lo do gato. Ia para cercá-lo de um lado e ele se deslocava rapidamente para o outro, alcançando o pobre gato que já estava quase morto. A todo custo consegui imobilizar o Picachú e prendê-lo. Examinei o gato que estava inerte no chão, vi algum sangue escorrendo. Peguei um saco e o larguei perto do portão frontal da casa, fora do alcance do Picachú. Pensei: “Amanhã vou enterrar esse gato no bosque aqui perto”. No dia seguinte tirei o carro para fora da garagem, abri o porta malas e coloquei o bichano com saco e tudo ali dentro. Chegando no pequeno bosque, retirei o bicho, que eu julgava morto, e ao abrir o saco o gato pulou fora e saiu meio doido, correndo por entre as moitas. Não sei qual foi o destino desse pobre gato, mas com certeza, se sobreviveu, não mais entrará nos domínios do Picachú.

Talvez, tenha esquecido de mencionar, mas o Picachú não suporta foguetes. Ao ouvir os estrondos se põe a latir desenfreadamente e, não adianta mandar se calar, pois enquanto não cessam os foguetes ele não pára de latir. Foguetes, gatos e cachorros grandes ele não suporta, mas adora uma comidinha de humanos. Um arroz com carne, um osso, um pedaço de carne, um pão, uma bolachinha, ah! Isso não tem preço para ele.

Hoje, estamos nos primeiros dias de junho de 2012, época do Picachú fazer 12 anos. Levei-o esta semana para fazer as vacinas e o veterinário disse que o seu coração é de um cachorro bem mais jovem. Volta e meia ele apresenta uma coceira no perna e morde até fazer ferida, é provável que seja algum tipo de alergia. O veterinário receitou uma pomada, vamos ver se resolve. Quando comprei a pomada, aproveitei e comprei um roupa nova para ele enfrentar o inverno e uma corrente para segurá-los nos passeios que fazemos, pois a que usava era de fibra e já estava se rompendo por mordidas do Picachú nas poucas vezes em que o deixei preso no pátio. Lembrei-me que o veterinário recomendou o uso de colar para evitar que o Picachú removesse a pomada. Na casa veterinária pus o colar no Picachú, mas ele arrancou-a Botei uma coleira para prender o colar, mas ele se desesperou tentando arrancar o colar. Desisti de comprar o tal colar e substitui a pomada por um “spray”.

Esqueci de contar que no verão passado ocorreu uma tempestade e arrancou algumas telhas. Chamei um pedreiro e abri o portão para ele entrar e fiquei entre o Picachú e o homem, pois o danado, como um raio, contornou-me e mordeu a mão do pedreiro. Achei que comigo por perto ele não atacaria, mas enganei-me. Tive que prendê-lo e, mesmo assim, ficou latindo e pulando. Vi, neste instante, que ele realmente não aceita estranhos em seu território. Apesar disso aceitou bem a companhia de um cãozinho que foi crescendo junto com ele. Fizeram uma boa amizade e, brincam feito duas crianças, ou seja, como dois cachorros gostam de brincar. Esta companhia fez muito bem ao Picachú, só espero que ele não entristeça quando o Zèzinho, este é o nome do cachorrinho, for embora, pois ele pertence à Lidane, minha filha adotiva.que irá morar no Rio de Janeiro.
Em 22/11/2013, o Picachú foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor que apareceu logo acima do anus, abaixo do rabinho. Em consquência desse tumor ele teve que ser castrado.Suportou bem essa adversidade.
Em 2014 anda meio acabrunhado, também meio surdo. Apareceram algumas alergias pelas pernas.Mas, tem se alimentado bem, embora já não consiga mastigar ração com grânulas maiores. É o meu cão que envelhece!
Em 19/06/2014, novos tumores apareceram por seu corpo. Levei ao veterinário para retirá-los. Medicação com antibióticos por uma semana e cuidados especiais para que não arrancasse os pontos.
Recuperou-se, mas infelizmente por pouco tempo. Começou o seu sofrimento, o câncer atacava seus órgãos internos e seus rins pararam de funcionar. Em 12/07/2014, num sábado triste, para evitar um sofrimento maior, em comum acordo com o veterinário, decidimos por praticar a eutanásia. Decisão terrivelmente dolorosa para mim, seguramente a decisão mais dolorosa que tomei na vida, mas eu não aguentava mais ver o meu cãozinho sofrer. Não comia. se arrastava da casinha para o sol, não segurava mais o xixi; Estava sofrendo muito.Um corpo agonizante se arrastava diante de mim. Não quero falar do seu olhar!.
Adeus Picachú. Fica a tua história que foi escrita, não na tua morte, mas durante a tua vida, pelo prazer que eu sentia em falar de ti e dizer para as outras pessoas das tuas peraltices e eternizar nossa amizade. Aprendi muito contigo, a humildade, a tolerância, o esperar, a alegria gratuita,o amor incondicional.Por ti, o mínimo que posso fazer,agora,  é que vou tentar usar o que aprendi contigo.Talvez, quando nos encontrarmos novamente, possas me alcançar tua patinha, para um caloroso bom dia.