quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CAZUZA

Costumo filtrar muito as mensagens que recebo antes de repassá-las. Esta achei digna de publicar também aqui. Pois, tenho certeza que a insubordinação de jovens nas famílias, nas escolas e na sociedade em geral tem muito a ver com o culto a mitos negativos, incentivados por pais inconsequentes, professores relapsos, e por uma sociedade corrupta. E, também, diga-se de passagens, por uma geração de psicólogos, que pregavam veementemente o "sim" para tudo na educação dos filhos e alunos. Ainda hoje assistimos a conselhos tutelares que incondicionalmente apoiam crianças, embora erradas no seu comportamento. Assistimos a pais intervindo na gestão escolar para "lavar a honra" do seu filhinho indisciplinado. Assistimos, também, a gestores escolares que não querem se incomodar com a comunidade escolar por várias razões. Vamos batalhar para mudar isso!

"CAZUZA , UM IDIOTA MORTO .

Esse cidadão dizia "todos os meus heróis morreram de overdose". E era aplaudido. É .... DEVIAM COLOCAR o texto abaixo NUM OUTDOOR LÁ NA PRAÇA CAZUZA, NO LEBLON... Psicóloga x Cazuza!
Esta mensagem precisa ser retransmitida para todas as FAMÍLIAS! Uma psicóloga que escreveu, corajosamente algumas verdades.
Uma psicóloga que assistiu ao filme escreveu o seguinte texto: 'Fui ver o filme Cazuza há alguns dias e me deparei com uma coisa estarrecedora.. As pessoas estão cultivando ídolos errados.. Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível. Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado. No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras.. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta.. São esses pais que devemos ter como exemplo? Cazuza só começou a gravar porque o pai era diretor de uma grande gravadora.. Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante. Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro, admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso. Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não. Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas, fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou. Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria? Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor. Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido. Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissesem NÃO quando necessário? Lembrem-se, dizer NÃO é a prova mais difícil de amor . Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar.. Não se preocupem em ser 'amigo' de seus filhos. Eduque-os e mais tarde eles verão que você foi à pessoa que mais os amou e foi, é, e sempre será, o seu melhor amigo, pois amigo não diz SIM sempre.' Karla Christine Psicóloga Clínica
Leu ?
Concorda com a psicóloga? Então faça sua parte divulgue...

sábado, 10 de janeiro de 2009

NUNCA MAIS !
Chegou-me um corvo. Não um corvo comum, desses corvos fedorentos, com penas toscas, que vivem comendo a carniça das carcaças mortas, os quais, comumente, chamamos urubus; mas sim, um corvídeo imponente. Um corvídeo com penugens lustradas de um preto-azulado. Uma ave de tamanho um pouco maior do que o de um corvo comum. Chegou-me esse corvo diferente e bicou na minha janela. Olhando-o assim, na noite estrelada, parecia, contra a cortina do céu, fazer parte de uma constelação. Pensei: "É mau agouro! Vou deixá-lo ir-se!" E voltei a ler. Duas páginas lidas e nova interrupção pelas bicadas na janela. "Vai-te embora ave preta! Não entrarás aqui capeta!". Não sei porque razão estava chamando aquela ave de agourenta e preta; mas falei alto, minha voz saiu tremida, como que assustada, estranhei! Levantei, larguei o livro sobre a mesinha e cheguei bem perto da janela. Aproximei minha cabeça do vidro que nos separava. O bicho virou a cabeça reluzente para o lado contrário e seu olho se fixou nos meus. Ficamos assim nos encarando por algum tempo. Nem uma piscadela de parte a parte. Aos poucos vi-me dentro daquele olho redondo e molhado. Lá estava eu me fitando. Meus olhos me olharam, estranhamente de dentro daquele olho, como a quererem uma mensagem dizer. Neste instante, a ave deu um salto para cima quase caindo do parapeito da janela. Equilibrou-se, abriu o bico fino e cortante e emitiu o seu som estridente, monossilábico e fantasmagórico. O corvo um pouco mais afastado, pude ver que havia em sua perna, próximo ao pé, um anel metálico. "Humm...este corvo tem dono, ou será uma ave marcada por algum ornitólogo estudioso!". "Vai embora ave preta, pois com ansiedade teu dono te espera, quem sabe há anos, pois com certeza, da eternidade não és!". "Mas e se for dos umbrais terríveis, abissais?". Credo! "Vai-te logo bicho das lendas ancestrais!". Deixando o corvo a me fitar, não sem sentir no âmago uma indescritível perturbação, fui à cadeira me sentar. Suava um pouco, minhas mãos estavam úmidas. Quando retomei à leitura percebi que tremia. A concentração se esvaia e a leitura não progredia, embora esforços tenebrosos. Fui vencido, fechei os olhos e deixei meus pensamentos bailarem. Não queria olhar para a janela. Desejava que ele não estivesse lá. Que tivesse ido embora, o corvo, e nunca mais viesse a perturbar os momentos da minha vida. O meu sótão era de paz. Eu o construi como refúgio, quase uma clausura. De área não mais do que quatro metros quadrados. Cabia ali uma pequena mesa, uma poltrona bem confortável das antigüidades, uma estante onde colocava meus livros bem distribuídos por assuntos e algumas utilidades, dessas que se usam para pequenos consertos. Claro, uma porta por onde entro e uma janela, de vidro sustentado por quadros de madeira, meia inclinada para o céu. Dessa janela, agora com o fatídico corvo, eu acostumara admirar o firmamento. Essa janela a qual me serve sempre de inspiração, pois me mostra o ignoto do infinito, essa janela, agora, me causava calafrios. Para ela eu não queria olhar pois, com certeza, lá estava a ave preta à minha espera para com sua densidade trazer-me as recordações das infindas dores das ausências sofridas. Bicadas, as bicadas no vidro da janela novamente, insistentes, compassadas. O som de vidro agredido invadia meus ouvidos, atroz, feroz, inquietante. "Vou eliminar a causa dessas minhas inquietações!". "Não, vou aceitar ser vencido pela ânsia de buscar as respostas, pegando o bicho agourento, prendendo-o aqui dentro do sótão!". "Mas, e se infestar o ambiente com as coisas que traz, as quais não sei quais são? Uma ave dessas não anda, com certeza, sem miasmas e coisas que tais!. Acabará com a paz do meu pequeno e sossegado cubículo, contaminando o ar com as coisas que traz!". Tais eram os meus pensamentos! Felinos, chacais, corrosivos, que consumiam minhas entranhas. Traria para dentro do meu sótão a matéria negra do negrume das dores já vencidas, mas latentes, ou afastaria de vez a áurea sem luz? "Sim, vou matar esse animal e jogar bem longe no pantanal! Para que servem os charcos, senão para apodrecer as matérias orgânicas, não lhes deixando rastos?" As bicadas incessantes continuavam. Agora o corvo inchava as asas, parecia desesperado. Decerto pedindo para entrar. Levantava o bico e o abria num grasnar suplicante e gutural. A madrugada, esta madrugada qualquer da encruzilhada do tempo, avançava com seus gemidos noturnos. O orvalho chegava e já caia e deslizava sobre as penas, reluzentes ao luar, daquele corvídeo de penas pretas-azuladas. Ele começou a caminhar impaciente sobre o umbral da janela, de lá para cá e de cá para lá. E parava e bicava e bicava. Vez por outra premia as penas das asas com seu bico para retirar o orvalho e voltava a caminhar desengonçado sobre o umbral. Desesperado, corri até a janela e bati com os dedos nos vidros, gritei, gesticulei. O bicho se assustou, voou e pousou num galho próximo. "Foi-se o infernal animal!" Foi o que pensei. Respirei fundo e me dirigi para minha poltrona. De repente um estouro de vidro quebrado e um corpo a meus pés rolando. Ali estava o corvo imóvel dentro do meu sótão. "Suicidou-se, o infeliz!" "Mas foi tenaz!". Peguei o suicida nas mãos, sentei-me na poltrona. "Tirou-me a decisão, afinal, este ignoto corvo!". Permaneci algum tempo também inerte mirando aquele corpo já esfriando entre as minhas mãos, como alhures esfriara junto de mim o corpo das tais lembranças já esquecidas, quais brasas sempre incendeiam com os sopros dos ventos invernais. A fria madrugada já adentrara trazendo junto o vento para dentro do meu reduzido quarto. E o vento zumbia e se espremia no buraco do vidro estilhaçado e seu zumbido era música fúnebre da alma do corvo que partia, deixando para mim aquele corpo de penas negras meio azuladas. "Mas, o que faço com o corpo dessa ave preta e lúgubre em meu colo?". Joguei-o longe. O corpo rolou pelo chão de agrestes tábuas e se acomodou junto a estante. Mas a batida foi tão forte que um livro solto caiu sobre ele. Voltei a mim mesmo e sucumbi ao cansaço. Fantasmas começaram a dançar, fantasmas daqueles que mandei embora, daqueles que se foram sem dizer adeus, daqueles que não tivemos tempo, dos que me amando se foram. Pude sentir o gosto do mel da saudade em meu coração, mas esse mel foi escorrendo e se petrificando, qual lavas no vale de um vulcão, como sempre acontece. Tomei um copo de leite que quase sempre deixava sobre a mesinha para beber mais tarde. A brancura do leite ascendeu-me, pelo contraste das cores, o negrume do corvo preto. Olhei e lá estava o corpo, onde o havia arremessado. E também o livro sobre ele. Olhei para a janela e ele não estava mais. Nunca mais o verei por sobre o umbral. Nunca mais ouvirei as suas bicadas. Nunca mais o verei caminhando trôpego por sobre o umbral. O seu grasnar agudo não mais atravessará as madrugadas. Nem suas penas se molharão ao úmido sereno. E seu olho molhado nunca mais será o espelho para os meus olhos. Morreu o imponente corvídeo. Nunca mais voltará para levar a história de suas viagens ao ornitólogo estudioso ou quiçá para os amigos das trevas abissais. Nunca mais me desafiará a tomar decisões, nem a conjeturar sobre temores escabrosos, habitantes escondidos de minh’alma. Nunca mais! Mais um "nunca mais" em minha vida. Já havia, por muitas vezes, superado vários "nunca mais" com seus imponderáveis vácuos. E, agora, o corvo. Da janela para o chão. Do grasnar para a mudez. Com esforço voltei os olhos para o corpo inerte. Fitei-o. Caminhei lentamente até ele. Peguei-o, segurei com as duas mãos. Seu pescoço caído, sua cabeça manchada com fios de seu sangue, suas penas pretas-azuladas – era tudo que restava. Nesta análise que fazia me deparei com o anel que havia na perna da ave. Concentrei meu olhar ali. Estremeci. Gravado no estreito anel que envolvia a perna escura e escamada do animal eu li com espanto: "Nunca mais! – e.a.p, 1845." Deixei cair o corpo inerte de minhas mãos a tremer. O corpo esparramou-se sobre o livro que, aberto em páginas divididas com a capa para cima, ficou espremido entre o corpo do corvo e o chão. Estarrecido, imóvel, assim permaneci por minutos. Ao amenizar o torpor, abaixei-me, peguei com raiva a ave preta e a atirei através da janela estilhaçando o restante da madeira e vidros. "Vai ave agourenta e não retornes nunca mais!" Peguei o livro, o livro que havia caído da estante, e li na página aberta: "O Corvo. De Edgar Allan Poe". Meu olhar turvou-se. Era difícil acreditar em tamanha coincidência. Seria mesmo coincidência? "Nunca mais – e.a.p, 1845" .Podem ser as iniciais de Edgar Allan Poe e, 1845, foi o ano que Poe publicou seu poema ‘O Corvo’. "O que está acontecendo?". A pergunta martelava em meu cérebro. Era um limiar inacreditável.
Trouxeram-me de volta respingos de chuva fria que entravam carregados por vento forte o qual adentrava pela janela quebrada. Não tinha percebido que o tempo lá fora mudara, repentinamente, e uma tempestade já estava a caminho. Recoloquei o livro na estante e encaminhei-me para apanhar um pedaço de madeira que fechasse, temporariamente, a janela. Meu caminhar foi abruptamente interrompido por alguma coisa que voava, já dentro do quarto. Num relance percebi que era um pássaro e dos grandes o qual pousou em cima da estante. Era um corvo. Não um corvo comum, desses corvos fedorentos, com penas toscas, que vivem comendo a carniça das carcaças mortas, os quais, comumente, chamamos urubus; mas sim, um corvídeo imponente. "Ressuscitou o corvídeo!" Pensei apavorado. Num instante peguei um livro da estante e o joguei na direção do ressuscitado. A ave voou e pousou sobre a mesinha defronte da poltrona. Atirei outro livro e o bicho voou por sobre a minha cabeça e voltou a pousar na mesinha. A chuva entrava forte e o frio da noite me enregelava. Fui obrigado a pregar a tábua, fechando a janela e deixando a ave preta no quarto. Acomodei-me na poltrona, diante do corvo pousado na escrivaninha. "Então voltaste, animal das trevas?", perguntei.
O corvo impassível me olhava, me olhava. "A que forças diabólicas te aliaste? Quem são os teus poderosos que te trouxeram de volta?" O corvo impassível. "Fantasma do Nunca mais, retornaste para vingar-te? Eu lá sabia por que querias entrar em meu quarto!. Buscavas refúgio? Alguém te perseguia?". O corvo impassível. Eu olhava através daquela ave agourenta e não para ela. Perscrutava a sua alma em busca de respostas que não conseguia encontrar. Lentamente, fui me detendo nele. O corvo, agora comia calmamente, em bicadas rápidas, um pedaço de pão que eu havia deixado e a intervalos me olhava com o seu olho redondo, ora um ora outro, virando a cabeça. Aos poucos, uma calma foi tomando conta de mim, ao ver o bicho, sem medo, degustando o pãozinho. Deixei que matasse sua fome, aproximei devagar as minhas mãos e o peguei. Ele não fez resistência. Apertei-o com uma das mãos contra a mesinha e com a outra puxei a perna que continha um anel e li: "Estou de volta. e. a. p., 1949". Instantaneamente, minha memória acusou: 1949, ano da morte de Edgar Allan Poe! Segurei o bicho pelo pescoço, quase esganando-o. "O que és afinal, ave fatídica? Alma penada em corpo de corvo, por que me escolheste?" Apavorado fui até a janela, afastei a tábua um pouco, o suficiente para a passagem da ave. Por encanto, a lua estava imponente alumiando novamente a madrugada. Foi-se a tempestade! Foi-se o corvídeo.
Desde então, em qualquer madrugada solitária, bica na minha janela um corvo. Não um corvo comum, desses corvos fedorentos, com penas toscas, que vivem comendo a carniça das carcaças mortas, os quais, comumente, chamamos urubus; mas sim, um corvídeo imponente. Um corvídeo com penugens lustradas de um preto-azulado.
E eu o deixo entrar.
( História inspirada no poema "O Corvo, de Edgar Allan Poe.)