200
ANOS DA IMIGRAÇAO ALEMÃ NO RS
Tributo
aos imigrantes alemães Habekost e Schell :
Este é o lugar, Vale dos Sinos/RS, e essa é uma época importante, 200
anos da imigração alemã para o Brasil, e dois nomes para serem lembrados,
Habekost e Schell, meus ancestrais, o primeiro trisavô, o segundo tataravô,
vindos diretamente da Alemanha.
. Transporto-me, num esforço sentimental, para aqueles tempos e
fico a buscar as fortes razões que moveram tantas pessoas a singrarem o oceano
e aportarem em terras inóspitas. Aventura? Fuga das conturbações sociais?
Desejo de riqueza? Amores? Que sentimentos moveram os corações dessa corajosa
gente? E, após aqui chegarem, internarem-se mais ainda nos matos gaúchos, nas
picadas, na solidão? Enfrentando feras, os nativos (índios), sol, chuva,
mortes, privações várias. Que espíritos indômitos! Que heróis! Sentado após
dois séculos, agora aqui, diante do meu computador, eu fico a imaginar que
foram eles que permitiram esse milagre. Johann Habekost, Johann Adam Schell,
alemães imigrantes, brasileiros por opção, ancestrais de tantos outros
brasileiros que hoje apenas, fracamente, imaginam a sua epopeia. Deles e de suas
maravilhosas mulheres eis-nos aqui, centenas de pessoas, a desfrutar das
energias que plantaram e cuidaram e impulsionaram. Se trago dentro de mim
alguma semente de sonho e de visão do futuro, talvez, lhes devo isto e, lhes
rendo o merecido tributo.
Percorrendo
a história das cidades que eles ajudaram a construir vislumbro a energia dos
seus corações de suas mentes determinadas e chego a sentir o suor dos seus
corpos na labuta diária, a sua saudade dos entes queridos e deixados além mar.
Cada casa construída, cada picada transformada em rua, cada igreja erigida para
orar e retemperar suas energias na sua fé, e cada cemitério, construído para
prantear seus amados entes que se foram, tudo me transporta a esse passado E
neste caldear do passado e do presente estremece o meu ser e eu sem os ter
conhecido, os conheço bem. Possa eu, ao menos, transmitir uma mensagem aos meus
descendentes, uma mensagem de admiração, de orgulho pelo trabalho dessa gente
destemida e, que o culto às suas memórias, nos ensine a entender que, acima de
tudo, a família ainda é a esperança para ser o veículo de preservação da
harmonia, da paz, do amor entre os homens. Cultuar um passado de trabalho, de
dignificantes exemplos, não é viver no passado, é antes de tudo trilhar sobre a
estrada do futuro. Olhar o futuro como eles olharam, construir o futuro como
eles construíram. Hoje é o amanhã, foi assim que eles pensaram, pensemos pois,
assim também!
João Habekost, nome que adotou após sua naturalização no Brasil, nasceu em
Hamburg na data de 08/06/1830. Chegou ao Brasil por volta de 1850 e serviu no
exército brasileiro atuando na guerra contra
Oribe e Rosas. Após sair do exército ganhou terras de sesmarias e depois
de vendê-las fixou residência no município de Rio Pardo/RS, mais
especificamente na localidade de Arroio das Pedras onde permaneceu até seu
falecimento em 28/09/1905, atuando, nesse local, como destacado comerciante e
pecuarista. Casou, em primeiras núpcias com Maria Valentina de Paula, na data
de 10/8/1853, tendo com ela dois filhos. Maria Valentina morreu aos vinte e
oito anos. João Habekost casou-se, em segundas núpcias, com Maria Joanna
D'Ávila, na data de 25/06/1876, com quem teve quatro filhos. João Habkost
naturalizou-se brasileiro em 31/07/1884, recebendo da Câmara Municipal de Rio
Pardo a sua certidão. Os numerosos descendentes de João Habekost e de suas
esposas estão espalhados pelos estados brasileiros e muitos deles ainda residem
na localidade de Arroio das Pedras e em Rio Pardo. No ano 2000 reuniram-se
cerca de 180 descendentes na localidade de Arroio das Pedras onde, num ambiente
festivo, confraternizaram. Na localidade de Arroio das Pedras foi edificado, em
terreno de propriedade de um dos filhos de João, um colégio de ensino
fundamental que existe até hoje sob o nome de “ E.E.E.M João Habekost”,
contribuindo dessa forma com a educação local.
Mais informações sobre a família Habekost podem ser
acessadas no endereço:
Adão Schell, nome que adotou no Brasil, oriundo de Johann Adam Schell,
nasceu na data de 24/06/1809 na aldeia de Bosen, ducado de Oldenberg,
principado de Birkenfeld (Alemanha). Chegou a São Leopoldo na data de
18/06/1829, aos vinte anos de idade, fixando residência na localidade de Bom
Jardim, hoje município de Ivoti. Em 30/10/1830 casou-se com Anna Christina
Hein, de Hildburghausen, Saxonia, ambos eram evangélicos. O novo casal residiu
inicialmente na colônia do pai de Anna Christina, situada também em Bom Jardim.
Algum tempo depois passou a morar em Rio Pardo e posteriormente em Cachoeira do
Sul, onde Adão Schell se estabeleceu com uma oficina de fabrico de carretas. Em
busca de matéria prima para suas carretas migrou para o município de Passo
Fundo onde se estabeleceu comercialmente. Com sua esposa Anna Christina, foi o
primeiro casal estrangeiro a povoar Passo Fundo, onde permaneceram até o fim de
suas vidas gerando nove filhos. Já no fim de sua existência, fundou Adão Schell
a Loja Maçônica Concórdia III, tendo sido o seu primeiro venerável.
Eis o que escreveu F. Antônio Xavier
e Oliveira em sua obra “Anais do Município de Passo Fundo”, sobre o falecimento
de Adão Schell:[1]
“24/08/1878. Falece o venerado ancião
Adão Schell, natural da Alemanha e um dos mais antigos moradores da vila, onde,
por muitos anos tivera importante casa de comércio.
Chefe de uma das mais numerosas e
distintas famílias da localidade, e primando por um caráter ilibado e uma
educação severíssima, a sua influência moral foi enorme na evolução social de
Passo Fundo, e será sempre recordada como um título de justa benemerência à sua
memória.”
Mais informações sobre Adão Schell e
seus descendentes pode ser encontrada em
Descendentes desses dois alemães
imigrantes estão espalhados pelo Brasil afora, principalmente nos estados do
sul. Seus ancestrais e parentes residem por todo o mundo, concentrando-se
notadamente na Alemanha.
O autor,
Ivanio Fernandes Habkost
e-mail: oynavy@gmail.com
[1] Johan Adam Schell, Marina
Xavier de Oliveira, 1980, Diário Da Manhã Gráfica e Editora/Passo Fundo/RS
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