sábado, 7 de junho de 2025

Desconexão

 A ansiedade do desconhecido nos incita em certos momentos inesperados. Uma furtiva troca de olhar se antes a aparência nos tocou por alguns motivos que penetram em nosso ser e seguem os caminhos virtuosos das veias e vasos linfáticos, nos atingindo o cérebro que por sua vez emite os sinais para as diversas partes do corpo e mexem com tudo que nos pertence anímica e carnalmente falando. 

São estranhos impulsos que não dominamos, mas somos obrigados a dominar aqueles que daí advém como uma torrente tempestuosa. Aquilo fica mordiscando os pensamentos que se nos deixarmos dominar nos levam para outras estradas.

 Muitas vezes surge uma poesia, palavras que se juntam no cérebro e descem pelos dedos e nos obrigam a colocar no papel ou em outro instrumento aquilo que nos motivou, outras vezes sai uma música, ou quem sabe uma só palavra ou, talvez, apenas olhares penetrantes ao longe, furtivos às vezes, outras vezes, constantes, ligados como se fossem elos indissolúveis. 

O que nos abala tanto? É a loucura da vida em busca de resolver as coisas não resolvidas, a ansiedade do não se sabe bem o que é. Um rodopio, um balançar de quadris, uma volta ao léu, um andar como se fosse embora. Nunca saberemos se aportando ali ficaremos satisfeitos, talvez uma satisfação momentânea, talvez nunca mais se saiba na realidade o que seria e não foi. E lá se vai a ilusão, fica a imagem, fica a ansiedade, ficam os miasmas daquela ligação que não se fez. Partem dois seres, cada um na sua estrada, muitas vezes paralelas e que, por alguma razão do destino se cruzam novamente ali adiante, sem querer, só o acaso. 

E, novamente, aquele olhar furtivo convidando sempre para um desconhecido entrelaçamento. Novamente a incerteza, o formigamento, a ansiedade. Tudo se esvai na ilusão, ou quem sabe, num viver mais próximo, na interpenetração dos anseios e desejos tão magoados na longa estrada solitária de cada um. Lá se foi alguém que nunca foi e nunca será, a silhueta permanece algum tempo, enquanto a ilusão não morrer, o olhar furtivo desaparece, some, tudo desvanece numa nuvem. É o ser em desconexo com ele mesmo.

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