segunda-feira, 27 de maio de 2024

O DITADOR DE PRIORIDADES

     

O ditador de prioridades

 

            Hoje em dia estamos sendo arrasadoramente ligados ao celular. Ele que dita as nossas prioridades. Estamos irremediavelmente sendo conduzidos por esta pequena, mas inteligente máquina. Tenho a impressão que foi a maior invenção do homem do século XX. Levantamos e a primeira coisa que fazemos é dar bom dia ao celular, verificando no whats quem nos dá bom dia, se existe alguma informação nova, se morreu alguém, quem ganhou o jogo, que novidades existe no mundo, qual foi a resposta de tal pessoa em relação ao que lhe disseram, enfim temos acesso instantaneamente a tudo. Temos dúvida do conceito de alguma frase, palavra, basta perguntar para o Google, quem foi tal pessoa na história da humanidade, qual a capital de tal país, como estará o tempo hoje, amanhã, daqui a uma semana, quem está vencendo a guerra, quem morreu, como está meu filho que mora nos Estados Unidos, na Europa, no Japão, tudo esta maquininha infernal sabe. Não podemos viver mais sem ela. E ela vai se desenvolvendo qual uma planta que por si só cresce, não tem limites, avança poderosamente para nosso domínio total é como se fosse uma praga para a qual não se conhece a cura. É um paradoxo, quanto mais reduzida de tamanho, mais poderosa, seu hardware decresce, mas seu software cresce. Nos dias de hoje, dado as facilidades de crédito, praticamente, qualquer pessoa possui um celular e, mesmo, velhos defasados em seu conhecimento conseguem manejar as funções mais úteis, mesmo aqueles de poder aquisitivo bem restrito possuem a sua maquininha, ela está tão disseminada no meio social que a visão mais comum, hoje em dia, é ver os transeuntes, as pessoas sentadas em bancos de praça, nos bancos de ônibus, em qualquer lugar, vê-las com o pescoço curvado, a cabeça pendida para baixo e os olhos fixos no visor do celular. Mas, todavia, temos que reconhecer a sua utilidade nas mais variadas necessidades do ser humano. Um aviso importante que precisa ser dado com urgência, chamar uma ambulância para atendimento de um paciente que precisa de socorro, localizar alguém perdido, orientar-se na cidade através de GPS, ver e falar com alguém que está a milhares de quilômetros de distância, conversar, namorar, encontrar o seu parceiro ideal, passear por cidades nunca vistas, conhecer os hábitos de outros povos, perscrutar a história, estudar, ler, buscar conhecimento em qualquer área, enfim já não encontramos uma só palavra que retrate o seu poder. É, sem dúvida, uma extensão, um apêndice de nós mesmos, sem o qual já não podemos viver. É nossa memória adicional que nos lembra, num simples som, o nosso próximo compromisso, já confiamos nela como em nós mesmos. Guarda os nossos segredos mais íntimos a ponto de ser absolutamente pessoal, ela não pode pertencer a duas pessoas ao mesmo tempo, é egoísta, é privativa, é filho de uma só pessoa, é amigo de apenas um. E, tanto é assim, que o acesso à sua memoria só é possível conhecendo a chave de entrada, a famosa senha pessoal, intransferível, guardiã de nossa vida. Tecnologicamente é poderosíssima, em breve se comunicará com outras máquinas das casas onde reside, comandando-as, interagindo com elas, dando ciência do que acontece dentro da casa, na ausência do seu dono. Fará pão, acenderá as luzes, abrirá portas e janelas, ligará uma panela para fazer a comida de tal forma que o dono ao chegar em casa só terá o trabalho de comer. Já responde perguntas bem específicas, escreve textos, corrige a ortografia e entregará a seu dono a folha impressa daquele documento, daquela carta, enviará e-mails, comprará livros, lerá e fará resumos. Tudo será possível,

Como estaremos daqui a alguns anos? Como seremos, apêndices das nossas próprias máquinas que hoje são nossos apêndices? Ou seremos destruídos antes disso por elas ou por nós mesmos? É um tempo de perguntas sem respostas, centenas de visionários estão a pipocar ideias querendo incutir na humanidade teorias, as mais diversas, sobre o destino da humanidade, ecologistas, filósofos, religiosos, políticos, perdidos no emaranhado de informações que são reduzidas a conceitos sem embasamento científico. Vez por outra nasce alguém que mostra o caminho verdadeiro quer na tecnologia, quer na espiritualidade. E, então, somos levados pelo roldão da verdade, infelizmente não sabemos fazer uso equilibrado das revelações e, então, temos que aprender pelo sofrimento e não pela sabedoria. Temos um exemplo na carne desta constatação, a enchente no Rio Grande do Sul. Muita gente aprenderá, muitos outros permanecerão na teimosia do seu curto saber. Ao povo do Rio Grande do Sul está sendo revelado uma verdade: o sofrimento é o caminho para quem não usa a sabedoria para sua evolução.

As águas, sempre as águas, dilúvios, tsunamis, sempre as águas a nos lembrar que pertencemos a um planeta aquático. Nos voltamos sempre para a terra, aterramos as margens dos rios, dos lagos, dos arroios, em busca de mais terra, mas esquecemos de ocupar as águas, conviver com elas. Não, poluímos, depositamos nelas a nossa ignorância, esgotos, fezes, resíduos industriais, sofás velhos, carros, animais mortos e até homens mortos. Poluímos as águas para depois gastarmos uma soma enorme de nossos recursos para despolui-la para consumo, Roubamos de seus leitos naturais, as matas ciliares, expulsamos os pássaros, os répteis, roubamos suas areias, aterramos os seus banhados, fazemos atrocidades indescritíveis com a natureza que tudo nos dá, mas quando ela não suporta mais, explode e nos mata e nos desaloja e, nos ensina pela dor.

E o celular? Bem, ele ainda não aprendeu a nos educar como a natureza, temo esse dia!!!

segunda-feira, 20 de maio de 2024

CALAMIDADE NO RIO GRANDE DO SUL

 

 



            







No início do mês de maio de 2024 ocorreu uma enchente nunca vista no estado do Rio Grande do Sul, ocasionando a maior tragédia de todos os tempos com mais de 157 mortes, centenas de feridos, a maior parte dos municípios foram atingidos, 464 de 497 foram atingidos, afetando 2,3 milhões de pessoas  , milhares de desabrigados, casas totalmente destruídas, bens materiais que compunham o interno dos lares totalmente perdidos. Os níveis dos rios superaram todas as marcas de segurança e invadiram as bairros das cidades ribeirinhas, como se pode ver pelo gráfico acima que mostra os rios que compõem a bacia hidrográfica do lago Guaíba, receptáculo de todas as águas que descem da serra e se dirigem para o mar e, devido a isso, a capital Porto Alegre, em suas regiões mais baixas ficou totalmente alagada. Ocorreram deslizamento de encostas, bloqueando estradas, destruindo tudo que aparecia pela frente, pontes, casas, estradas, tragédia impressionante. Os municípios da grande Porto Alegre, tais como Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, foram severamente atingidos. Os municípios vizinho de São Leopoldo e Novo Hamburgo ficaram incomunicáveis por terra, pois o Rio dos Sinos transbordou e impediu que as pontes, três pontes que interligam as duas cidades, fossem interditadas. Diques foram rompidos pelas águas agravando ainda mais a região. O aeroporto de Porto Alegre ficou totalmente debaixo de água, impedindo voos que interligam esta capital ao Brasil e ao mundo. Viagens foram canceladas sem previsão de retorno. As regiões do Vale do rio Taquari foram assoladas de tal maneira que muitas cidades foram varridas do mapa, viam-se casas inteiras sendo arrancadas e arrastadas pelo furor das águas barrentas, árvores indo rio abaixo, animais lutando desesperadamente para sobreviver em nado aterrador, cachorros, porcos, gado, centenas morrendo sufocados pelo cansaço e dor, corpo submerso, só a cabeça de fora, implorando, com olhos esbugalhados de pavor, um salvamento. Um cavalo tornou-se o símbolo da resistência e esperança ao ficar vários dias e noites sobre um telhado de casa submersa, sem se mover, sem água, sem ração, solitário na sua luta pela vida, até que foi heroicamente resgatado. Esse cavalo, o Caramelo, nome que recebeu por sua cor, passará para a história como símbolo da resiliência do povo gaúcho. E o povo foi solidário, numa corrente impressionante de solidariedade e fraternidade foram surgindo os heróis que, sem medir esforços, se lançaram ao salvamento de pessoas e animais em suas botes particulares, no seu esforço pessoal, numa doação nunca antes vista. Abrigos foram montados às pressas para acolher os flagelados, cozinhas foram montadas tempestivamente para alcançar um pouco de comida e alimento a quem desesperado clamava por auxílio. Chamamentos ecoavam pelas redes sociais para que voluntários se apresentassem para ajudar. Observava-se um ir e vir de barcos trazendo para as partes secas que ainda restavam, os magotes de pessoas, molhadas, com frio no corpo e na alma por terem perdido tudo. A busca por sobreviventes era frenética, os voluntários seguiam para pontos remotos onde antes havia casas e agora só águas, na busca de algum telhado que guardasse pessoas ou animais. De muitos, centenas de telhados, foram resgatado pessoas e cachorros. Os voluntários não se permitiam trégua, organizados qual um exército em batalha, dividiam as funções, colocavam ordem nos locais de acolhimento, serviam refeições, distribuíam agasalhos, improvisavam camas, distraiam as crianças, consolavam idosos, distribuíam atenção e amor aos corações flagelados, faziam os primeiros socorros aos feridos. O Brasil inteiro se mobilizou e se solidarizou com a tragédia que se abatia sobre o povo heroico do Rio Grande do Sul que tem uma história imensurável na guarnição das fronteiras sulinas desse imenso e grandioso país que todos amamos. Enquanto os rio arrastavam as coisas do Rio Grande, rios de solidariedade acolhiam o povo gaúcho, traumatizado e perplexo diante do furor de uma natureza que sempre o acolheu e lhe deu o que comer, no que viver, permitindo que sua terra lhe desse o fomento necessário para o cultivo de tudo o que é necessário para a sua subsistência, além de lhe dar condições de forjar uma tradição de lutas, de caráter, de brio, e criar um modo sui generis de vida, onde se observa, por exemplo, a cuia com chimarrão, o fogo aceso nas fazendas que nunca se apaga, o amansar o chucro cavalo, o lutar e brigar por seus direitos, impedindo a exploração das elites, tal como foi feito na Revolução Farroupilha. Muito se ouviu , agora, nesses tempos bicudos, o hino Rio grandense, onde se ouve versos, que refletem o caráter desse povo- “sirvam nossas façanhas de modelo à toda a Terra” – povo rico de façanhas para onde quer que se olhe. Dois campeões mundiais de futebol, Grêmio e Inter, refletem um tipo de façanha que muito orgulha parcela da sociedade que se dedica ao esporte. É povo unido e forte que irá reconstruir essa valorosa terra. Amamos a natureza que tudo nos dá, num momento e, noutro, quase tudo nos tira, mas vamos refletir com mais atenção e tentar compreender que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, como bem afirmou Lavoisier. Vamos prestar bem atenção o que dizem as pessoas, filtrar e separar o joio do trigo, pois é nesses momentos que a erva daninha aparece, principalmente disfarçados em conhecimento e cultura, tentando fincar estacas de conceitos ideológicos. Ouvi um professor que quer se tornar famoso, e já é conhecido por muitos, colocar toda a culpa no “AGRO”. É do mesmo time que combate a tecnologia e a usa, que combate a poluição, mas usa o seu carro, que combate a soja, mas tem na sua cozinha o óleo que usa para condimentar os seus alimentos, fritar o seu bife, regar a sua salada. Hipocrisia pura.

O Rio Grande do Sul vai sair dessa mais forte e unido e o Brasil também!