O ditador de prioridades
Hoje
em dia estamos sendo arrasadoramente ligados ao celular. Ele que dita as nossas
prioridades. Estamos irremediavelmente sendo conduzidos por esta pequena, mas
inteligente máquina. Tenho a impressão que foi a maior invenção do homem do
século XX. Levantamos e a primeira coisa que fazemos é dar bom dia ao celular,
verificando no whats quem nos dá bom dia, se existe alguma informação nova, se
morreu alguém, quem ganhou o jogo, que novidades existe no mundo, qual foi a
resposta de tal pessoa em relação ao que lhe disseram, enfim temos acesso
instantaneamente a tudo. Temos dúvida do conceito de alguma frase, palavra, basta
perguntar para o Google, quem foi tal pessoa na história da humanidade, qual a
capital de tal país, como estará o tempo hoje, amanhã, daqui a uma semana, quem
está vencendo a guerra, quem morreu, como está meu filho que mora nos Estados
Unidos, na Europa, no Japão, tudo esta maquininha infernal sabe. Não podemos
viver mais sem ela. E ela vai se desenvolvendo qual uma planta que por si só
cresce, não tem limites, avança poderosamente para nosso domínio total é como
se fosse uma praga para a qual não se conhece a cura. É um paradoxo, quanto
mais reduzida de tamanho, mais poderosa, seu hardware decresce, mas seu
software cresce. Nos dias de hoje, dado as facilidades de crédito, praticamente,
qualquer pessoa possui um celular e, mesmo, velhos defasados em seu conhecimento
conseguem manejar as funções mais úteis, mesmo aqueles de poder aquisitivo bem
restrito possuem a sua maquininha, ela está tão disseminada no meio social que
a visão mais comum, hoje em dia, é ver os transeuntes, as pessoas sentadas em
bancos de praça, nos bancos de ônibus, em qualquer lugar, vê-las com o pescoço
curvado, a cabeça pendida para baixo e os olhos fixos no visor do celular. Mas,
todavia, temos que reconhecer a sua utilidade nas mais variadas necessidades do
ser humano. Um aviso importante que precisa ser dado com urgência, chamar uma
ambulância para atendimento de um paciente que precisa de socorro, localizar
alguém perdido, orientar-se na cidade através de GPS, ver e falar com alguém
que está a milhares de quilômetros de distância, conversar, namorar, encontrar
o seu parceiro ideal, passear por cidades nunca vistas, conhecer os hábitos de
outros povos, perscrutar a história, estudar, ler, buscar conhecimento em
qualquer área, enfim já não encontramos uma só palavra que retrate o seu poder.
É, sem dúvida, uma extensão, um apêndice de nós mesmos, sem o qual já não
podemos viver. É nossa memória adicional que nos lembra, num simples som, o
nosso próximo compromisso, já confiamos nela como em nós mesmos. Guarda os
nossos segredos mais íntimos a ponto de ser absolutamente pessoal, ela não pode
pertencer a duas pessoas ao mesmo tempo, é egoísta, é privativa, é filho de uma
só pessoa, é amigo de apenas um. E, tanto é assim, que o acesso à sua memoria
só é possível conhecendo a chave de entrada, a famosa senha pessoal,
intransferível, guardiã de nossa vida. Tecnologicamente é poderosíssima, em
breve se comunicará com outras máquinas das casas onde reside, comandando-as,
interagindo com elas, dando ciência do que acontece dentro da casa, na ausência
do seu dono. Fará pão, acenderá as luzes, abrirá portas e janelas, ligará uma
panela para fazer a comida de tal forma que o dono ao chegar em casa só terá o
trabalho de comer. Já responde perguntas bem específicas, escreve textos,
corrige a ortografia e entregará a seu dono a folha impressa daquele documento,
daquela carta, enviará e-mails, comprará livros, lerá e fará resumos. Tudo será
possível,
Como estaremos daqui a alguns
anos? Como seremos, apêndices das nossas próprias máquinas que hoje são nossos
apêndices? Ou seremos destruídos antes disso por elas ou por nós mesmos? É um
tempo de perguntas sem respostas, centenas de visionários estão a pipocar
ideias querendo incutir na humanidade teorias, as mais diversas, sobre o
destino da humanidade, ecologistas, filósofos, religiosos, políticos, perdidos
no emaranhado de informações que são reduzidas a conceitos sem embasamento
científico. Vez por outra nasce alguém que mostra o caminho verdadeiro quer na
tecnologia, quer na espiritualidade. E, então, somos levados pelo roldão da
verdade, infelizmente não sabemos fazer uso equilibrado das revelações e,
então, temos que aprender pelo sofrimento e não pela sabedoria. Temos um
exemplo na carne desta constatação, a enchente no Rio Grande do Sul. Muita
gente aprenderá, muitos outros permanecerão na teimosia do seu curto saber. Ao
povo do Rio Grande do Sul está sendo revelado uma verdade: o sofrimento é o
caminho para quem não usa a sabedoria para sua evolução.
As águas, sempre as águas,
dilúvios, tsunamis, sempre as águas a nos lembrar que pertencemos a um planeta
aquático. Nos voltamos sempre para a terra, aterramos as margens dos rios, dos
lagos, dos arroios, em busca de mais terra, mas esquecemos de ocupar as águas,
conviver com elas. Não, poluímos, depositamos nelas a nossa ignorância,
esgotos, fezes, resíduos industriais, sofás velhos, carros, animais mortos e
até homens mortos. Poluímos as águas para depois gastarmos uma soma enorme de
nossos recursos para despolui-la para consumo, Roubamos de seus leitos
naturais, as matas ciliares, expulsamos os pássaros, os répteis, roubamos suas
areias, aterramos os seus banhados, fazemos atrocidades indescritíveis com a
natureza que tudo nos dá, mas quando ela não suporta mais, explode e nos mata e
nos desaloja e, nos ensina pela dor.
E o celular? Bem, ele ainda não
aprendeu a nos educar como a natureza, temo esse dia!!!