3 I / Atlas
(Terceiro cometa interestelar que cruzou o sistema solar em
2025.)
Fico aqui a imaginar quantos de nós
gostariam de embarcar no 3I/Atlas e cavalgar por esse universo sem fim qual um
gaúcho montado no seu pingo a desfrutar as imensas campinas verdejantes do
pampa e explorar cada galáxia, cada estrela, cada planeta.
Um cometa nos visita, vem dos
confins do universo, atravessa o nosso sistema solar causando expectativas,
medo, insegurança, estudo, teorias mirabolantes sobre extraterrestres, mas ele
imponente, montanhoso, passa veloz e
quieto. Um desvio aleatório ( ou guiado! ) de sua trajetória e adeus Terra,
adeus planeta maravilhosamente azul.
Nesse efêmero pensamento
apocalíptico me surge a avaliação de nossa pequenez humana. Recém estamos
tentando sair de nossa órbita, chegar ali, bem pertinho, na nossa lua, superar
a força que nos prende ao nosso planeta, superar nossa própria inteligência.
Penso também, por outro viés, quanto há por fazer em nossa casa, ou por deixar
de fazer – poluição atmosférica, emissões abissais de carbono, poluição dos
nossos rios; emissões de produtos químicos tóxicos, de embalagens jogadas ao
mar que asfixiam as tartarugas; produção de energia contaminante, carros
poluentes, e, talvez, pior ainda, contaminando a água que nos sacia a sede,
acabando com nossos rios e os peixes,
dizimando toneladas deles.
A natureza grita, chora, revolta-se
– tsunâmis, enchentes, tufões, sinais evidentes contra nossa ignorância e
indiferença. Seguimos nossa sina de besta humana e pouco ligamos para nossas
responsabilidades sociais, para nossas desigualdades; criamos feudos étnicos,
castas e privilégios econômicos, privilégios do saber, privilégios da
tecnologia, enterramos a fraternidade na indiferença do dia a dia.
Ah! 3 I/Atlas, terias acordado a
humanidade? Levaste contigo para os confins toda essa gosma que nos cobre e
sufoca? Sugaste com tua enorme massa os miasmas maléficos desse planeta de vida
pulsante para que possamos construir um futuro com requisitos éticos,
eliminando o cancro da corrupção, o cancro das drogas e o cancro do orgulho e
maldade dos corações?
Eis que construiremos um futuro de
equilíbrio onde não mais existam muros
visíveis e invisíveis entre os seres. Onde a cor da pele seja antes um
desfrutar de aproximação do que de afastamento, onde a diferença de capacidade
seja gerida fraternalmente, que as diferenças biológicas sejam aceitas com
compreensão e ajuda mútua.
Que sigamos contigo 3 I/Atlas, na
tua transcendente missão, na busca eterna do desconhecido, na travessia do que
somos e do que podemos ser.