terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Memórias - Parte I

 

Este meu velho blog vai sentir por me ver escrever tantas ideias que aportam em minha envelhecida mente.

“Anno Domini, 2022”, escrito em 3/11/2022 que precede este artigo, constituirá uma das partes das minhas memórias.

1ª PARTE  ( 27/12/2022 )

Atravessei inúmeras dificuldades, nas quais quase naufraguei. As primeiras, ainda, sem noção ou poder de análise, mas com muita dor no coração, melhor aperto. Um aperto muito forte da saudade infantil dos pais que ficaram longe, das águas do rio , das matas ribeirinhas, dos amigos, das amigas. dos animais, dos pássaros, dos frutos silvestres, do barro da chuva, do pão feito em casa, enfim da convivência sem armadilhas, da paz sem compromissos. Era a infância feliz, embora sem presentes materiais. Hoje eu entendo a diferença. Muito longe ainda, o amor dos avós e dos tios e tias, tenra infância saudosa, praticamente no chão da terra. As vacas, as galinhas, os cavalos, os cães. Até os cães pareciam diferentes e gigantes. O mato virgem, os riachos gelados, o cheiro da cardamomo. O orvalho, bem cedinho, matando a sede das folhas. O meu coração estava cheio dessas belezas da natureza quando parti e deixei tudo para inundar a saudade. Uma troca terrível, matas por prédios, animais por gentes, terra por asfalto, rios por chuveiros. Moldava a duras penas um ser que eu desconheceria, fustigado por regras, etiquetas, estudo, muito estudo. Um novo tipo de convivência que eu tateava à procura de uma realização que não sabia bem o que seria. Foi crescendo um vácuo dentro de mim que não conseguia preencher. Oásis na juventude permitiram seguir em frente – Grupo da Amizade – jovens reunidos em busca de convivência sadia, não havia drogas, nem álcool. Época de ansiedades, de insatisfações, de buscas. Enfim, nesse grupo, conheço a pessoa que viverá comigo por quarenta anos. Cedo, esse compromisso, porém. Havia muito a construir, muito a usufruir, mas segui em frente. Com muito esforço, consegui superar o obstáculo do vestibular. Era imperioso que fizesse uma faculdade. Aqui uma encruzilhada. Eu queria o Jornalismo, passei no Vestibular da PUC, mas ao mesmo tempo, passei também, no vestibular da Engenharia Química, este na cidade de Rio Grande. O que fazer? Ponderei a situação sozinho. Jornalismo seria pago, Engenharia, com bolsa. Não houve escolha, apenas imposição das finanças. Segui para Rio Grande. Uma era de muitas lutas, poucos recursos materiais, no início recebia uma bolsa de estudos, depois consegui trabalho no Centro de Pesquisas Oceanográficas e já, no fim da faculdade, como professor de química no Colégio dos Irmãos Maristas. Resolvi, num gesto pusilânime, casar. Hoje vejo que não era tempo. Veio o primeiro filho. A luta se agigantava. Era um roldão de destino misturado com decisões apressadas. Talvez, por essas razões, seguramente por elas, levei um ano a mais para concluir a faculdade, o que até hoje sinto, porque o convívio a posteriori com os colegas com os quais convivi e criei fortes vínculos de afetividade, me foi negado por esta circunstância, mas apesar disso a amizade não esmoreceu e continuo sendo lembrado e mesmo comunicando-me, via whats e também esporádicas visitas dos mais chegados. Também, é claro, tenho encontros com os colegas que se formaram comigo e os mais saudáveis foram ao completarmos 10 anos e 50 anos de formado. Muitos dos colegas já se foram para os celestes campos, e quase todo o ano um parte, por isso preciso apressar - de novo o apressar!, para concluir essas minhas lembranças. Essa era de Rio Grande irá constituir a 2ª PARTE, pois acho importante salientar alguns episódios que ajudaram a forjar o meu caráter. Até lá!

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

ANNO DOMINI 2022

 Ah , meu blog querido, quanto tempo! Dias atrozes me impediram de estar aqui. Mas farei força para ser mais periódico com você e os amigos que me leem vez por outra. Hoje retorno, não com muito boas notícias, mas necessárias para construir minha história. Vejamos:

Anno Domini, 2022.

Estou com 82 anos e três meses e vivenciando eventos que considero normais para uma humanidade em evolução nesta Terra de regeneração, todavia, claro surpreendentes. Chegamos ao fim de uma pandemia o Covid 19 que levou para outra dimensão centena de milhares de homens e mulheres e da qual me livrei, bem como todos os familiares, com exceção do marido de uma prima irmã minha. O Covid me visitou, mas muito fraco, apesar que eu atribuo a ele minha perda parcial da audição do ouvido direito. Iniciei esse famigerado ano (e depois explico por que considero famigerado) no hospital, fruto de uma bactéria hospitalar que me pegou ao fazer uma cirurgia simples de hérnia inguinal. Quase bati as botas, estive na UTI por oito dias! Considero 2022 famigerado por que vivenciei  acontecimentos fora da curva:  primeiro a eleição para presidente da república de um ex-presidiário, condenado em três instancias jurídicas e absolvido por uma “canetada” de um Juiz do Supremo Tribunal Federal, sob os olhos complacentes do Senado Federal, quem de direito deveria ter coibido tal ação – esse evento ainda será narrado pelos historiadores, no devido tempo; segundo, o rompimento de relações com o meu primogênito por divergências, não ideológicas, nem religiosas, pois criei os meus dois filhos com plena liberdade de escolha, embora lhes tenha ensinado as principais virtudes do caráter de um homem, entre eles o respeito aos outros e, principalmente aos pais e mais velhos. Levando em conta esses ensinamentos, enviava via WhatsApp para ele alguns folders ou vídeos esclarecendo qual o melhor caminho para as eleições, mesmo sabedor que ele era simpatizante do partido dos trabalhadores. Pois, ele teve petulância de solicitar a seu pai que não lhe enviasse para o seu WhatsApp esse tipo de conteúdo. Retruquei dizendo que respeitava suas convicções, mas que não admitia que ele votasse num ladrão e corrupto, que não foram esses valores que lhe tinha ensinado. Sua resposta, ao invés de conciliadora, foi a de impropérios contra o outro candidato ao qual eu preferia. Não havia, no momento, outra decisão a não ser bloquear o e-mail dele e foi o que fiz. Pois, ainda vivi o suficiente para presenciar acontecimentos tão estranhos e imprevisíveis e que me afetariam tão proximamente. Com certeza, a compreensão que me passa a minha filosofia de vida, me faz aceitar serenamente esses acontecimentos, significa que eu sou merecedor deles e servirão para o meu aprimoramento. Somos todos irmãos e Deus nos dá as mesmas oportunidades de evolução, uns andam mais rápidos outros mais lentos e, acho que me encontro entre os últimos, pois estou nessa dimensão ainda. Algumas tarefas inconclusas, por certo, necessitam desse adicional de tempo que me é dado. Hoje ouvi algo interessante: existem muitos dias a serem vividos, mas só um para morrer! Vou aproveitar bem os que me restam, principalmente para perdoar. Sentimento extremamente difícil de concretizar, pois o orgulho, a prepotência, a ira são atrozes adversários.

Do alto desses meus 82 anos que me dão muita experiência de vida eu vejo que a sociedade brasileira tem muito a evoluir para aceitar serenamente o contraditório. Os homens que lideram o país têm pouca habilidade para compreender o seu papel. Criaram uma Constituição, mas não a respeitam e, principalmente os ministros do Supremo Tribunal Federal – a história demonstrará. A sociedade está numa perigosa encruzilhada: se divide entre um regime socialista, que não deu certo em lugar nenhum do mundo relativo às liberdades e um regime que está engatinhando entre a extrema direita e o centro. O primeiro deturpado, aqui no Brasil, mais ainda pela corrupção, causa da grande maioria dos males sociais. Quem conhece a história do Brasil pode traçar um paralelo com outros importantes e trágicos acontecimentos envolvendo o mandatário do país. Os perdedores dificilmente se conformam com a derrota e ficam atazanando o eleito no período do seu governo. Lembram Getúlio, que se suicidou, lembram Jânio Quadros que renunciou? Ainda estamos vivendo essa incompreensão na nossa própria pele, vejam o que fizeram com o Bolsonaro, deram-lhe uma facada quase mortal e depois o sistema o encurralou a ponto de não conseguir se reeleger, e quase não governar. Essa é a mentalidade torpe de brasileiros que colocam o poder e por consequência seus ganhos pessoais acima dos valores pátrios. E o que é pior interferem na educação dos jovens e crianças tornando as escolas um antro de ensinamento de ideologias, antes de um ensino de conteúdos, sob o argumento falso de que a escola tem de educar ao invés de ensinar. Educação é com os pais e assim mesmo ocorrem cisões ao invés de convergências, como no meu caso.

Temos muito que aprender. É preciso gerar conhecimento. É preciso constante vigília e muita atenção nos sinais para que se possa, em conjunto, principalmente, na família, bem maior da sociedade, construir valores perenes para o bem. Quem não quiser seguir por esse caminho do bem, que siga sua estrada, haverá outras chances, se não nesta, em outras vidas.

Por hoje e só pessoal!