terça-feira, 8 de novembro de 2016

A Casa de Orates Brasiliense e o seu Apocalipse

(Uma crônica dos tempos futuros...como se eu pudesse homenagear Machado de Assis! E por que não?)

I – A genealogia de Simão Bacamarte Neto

Contam as crônicas escritas em jornais e revistas, que lá pelos idos de 2016,  em Brasília, capital do Brasil, o governo era exercido por três poderes: um era o Poder Executivo, outro o Legislativo, e um outro que, estranhamente, os seus componentes eram escolhidos pelo primeiro poder, - a Suprema Corte. Funcionavam esses poderes em respectivos prédios que foram construídos relativamente próximos um do outro, segundo o projeto de um famoso arquiteto brasileiro, amante do comunismo, Oscar Niemayer..
Nesses lugares, hoje, só existem buracos, pois os três poderes foram totalmente destruídos por meteoritos, neste ano de 2016, como relatam as crônicas. Descrevem, elas, as crônicas, que esses poderes eram independentes um do outro. Mas, com o tempo, a roubalheira era tanta que os poderes de independentes ficaram dependentes, cristalizando-se uma enorme confusão. Ninguém mais se entendia até que acharam interessante caçar o mandato do executivo que,  aliás, era exercido por uma mulher- Dona Moreia.
Naquele tempo, os três poderes estavam localizados em três prédios diferentes, como foi dito acima. O Legislativo era exercido em dois prédios cujas construções assemelhavam-se a uma “concha”, uma virada para cima, a outra virada para baixo (Lê-se, em pé de página, de muitas crônicas, que os humoristas associavam essas construções a penicos, um virado para cima e outro virado com a boca para baixo). Os outros poderes ficavam em prédios, não muito longe um do outro, E essa junção de prédios constituíam a Praça dos Três Poderes.
Pois, segundo destacam as narrativas, foi no prédio de concha virada para baixo onde se instalou o Dr. Simão Bacamarte Neto.
O Dr. Simão Bacamarte Neto, como está a indicar o nome, era neto do saudoso e justiceiro médico da vila de Itaguaí- “filho da nobreza da terra e o maior  dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas”, como foi tão magistralmente contado por Machado de Assis em sua crônica “O Alienista”, exaltado nos anais históricos da vila de Itaguaí.
As  crônicas contam também que quando o Dr. Simão Bacamarte Neto se instalou em Itaguaí ocorreu um reboliço total na população. Sabe-se que isso ocorreu eis que, para todos, o Dr. Simão Bacamarte, o avô, em tempos idos,  médico da vila de Itaguaí e, conhecido como o alienista, fundador da Casa Verde, a famosa casa de orates da cidade de Itaguaí,  tinha se casado, nessa vila, com a viúva, Dona Evarista, e que, apesar, de todos os esforços científicos, ela não deu filhos a seu marido doutor.- é a crônica de Machado de Assis que assim conta. Então como explicar a existência do neto?. O fato era notícia por todos os cantos da vila e arredores. Muitos foram realizar pesquisas na biblioteca pública, outros acorreram à Câmara Legislativa, outros ao hospital, além dos que, em rodas de bares, tentavam reconstituir a história de vida do alienista famoso. Houve quem procurasse antigos moradores ou parentes deles no afã de entender como o Dr. Bacamarte tinha um neto.
Por fim, como havia muito desencontro nas informações e, para preservar os bons costumes da sociedade, como dizia o prefeito, foi aprovado uma comissão na câmara de vereadores para elucidar o caso. A comissão se instalou e começaram os debates para escolha do presidente e do relator que foram escolhidos depois de uma semana de debates. Resolvidas as querelas, convocaram o Dr. Simão Bacamarte Neto para, dentro de quinze dias vir dar explicações.
Chegado o grande dia, a praça defronte à câmara de vereadores estava apinhada de gente, habitantes de Itaguaí e dos arraiais próximos, Tvs e jornais do país e até do estrangeiro compareceram. Dentro da casa legislativa não havia um só recanto que não estivesse alguém metido, corredores tomados, sem trânsito possível. O ar condicionado não dava conta e todos suavam e a respiração já era difícil. Aberta a seção, o presidente passou a palavra ao relator. Este após o uso da palavra e salientar o árduo trabalho, agradeceu à sua mãezinha, que está no céu, a inspiração recebida e, por não ter família, ressaltou a paciência do seu cachorro por não ter comido nesses dias em que preparou o relatório, sem latir. Por fim, Leu o seu relatório que conclui : “ ... Não consegui encontrar provas para garantir que o Sr. aqui presente, que se diz neto do nosso grande, inesquecível benfeitor, grande cientista, Dr. Simão Bacamarte, conhecido como o alienista o qual salvou a cidade de Itaguaí de todos os loucos, seja realmente seu neto...”
As crônicas resumem a explicação do Neto que foi dada à câmara naquele dia:
“Bem, como sabem todos da vila de Itaguaí,  meu avô retornou ao Brasil, vindo de Portugal, com trinta e quatro anos. Meteu-se, então, em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma à sua profissão de médico. E aqui desempenhou a sua profissão e aqui viveu até morrer Como é do conhecimento de todos, tornou-se o inesquecível alienista. Porém, o que os senhores não sabem e que foi o grande segredo de meu avô, é que ele nos tempos de estudante relacionou-se com uma moça, em Lisboa, e com ela teve um filho, o meu pai. Este filho foi registrado com o nome de Simão Bacamarte Filho. Meu avô, talvez, esse seu único e grande pecado, não quis trazer a moça e seu filho para o Brasil e nunca mais esses souberam dele. Meu pai casou e teve uma filha mulher que morreu, coitada, e eu. Meu pai, para homenagear meu avô fujão, me batizou com o nome de Simão Bacamarte Neto. Eu, curioso, é que descobri depois de adulto onde se encontrava o meu avô.
Este é um verdadeiro resumo da história de minha vida.”

E assim fica elucidada a genealogia de Simão Bacamarte Neto, protagonista desta crônica.


II – Ida de Simão Bacamarte Neto para Brasília.

 E o Neto nasceu com o obsessão do avó, desde pequeno já andava caçando vaga-lumes e justificando que eles eram totalmente dementes por andarem com luzes na barriga. Seu pai vendo os pendores do filho o mandou para a Alemanha onde havia uma excelente escola de médicos. Vindo para o Brasil depois de formado, foi para a vila de Itaguaí onde trabalhou para resgatar a memória do avô, recriando a casa de orates – A Casa Verde, a qual renomeou para Casa Verde e Amarela. E aí trabalhou por longos anos, internando centenas de pessoas desvairadas e outras não muito, causando muita polêmica nos meios médicos e, também, na vila de Itaguaí.
. O Dr. Simão Bacamarte Neto estava sempre atento em busca de novos clientes para a casa Verde e Amarela. Eis que, acompanhando o desenrolar do julgamento do “impeachment” da presidente da república, na Câmara Legislativa,  ficou extasiado com a quantidade de clientes que poderia trazer para a Casa Verde Amarela de Itaguaí. Do alto de sua experiência chegou à conclusão que ” só ele, como um grande psiquiatra, conhecedor profundo das mentes humanas, poderia contribuir para salvar o país dos mentecaptos que estavam a solta e que infestavam aquela cidade”.
Para concretizar o seu intento pensou  num plano diabólico. Relatam as crônicas que encomendou, muito secretamente, para uma costureira do interior de Itaguaí, uma vestimenta que imitava um colete com explosivos E, indo para Brasília, na calada da noite, se instalou no prédio de concha virado para baixo, ou seja num dos prédios do Poder Legislativo, não sem antes se ter preparado devidamente para os seus intentos.. Fechou todas as portas, trancou-as por dentro com o que estava à sua disposição e, pela manhã, ninguém entrava mais.
Ao ser contestado pela polícia disse que tinha explosivos e que poria o prédio abaixo se não lhe atendessem.

III – De como surgiu  uma casa de orates em Brasília

No dia imediato em que o Dr. assenhorou-se do prédio iniciaram as negociações. Brasília parou. Nas ruas, nos cafés, nos hotéis, nas casas, era um assunto só. As televisões do mundo inteiro se instalaram, fazendo da Praça do Três Poderes o seu quartel. As televisões brasileiras suspenderam até as novelas e a transmissão de partidas de futebol, muito em voga, na época, obrigando o povo em geral a acompanhar os acontecimentos protagonizados pelo Dr. Simão Bacamarte Neto. De todas as cidades brasileiras afluíam curiosos. Barracas e mais barracas foram armadas na esplanada dos ministérios, local projetado para ocasiões de eventos importantes pelo visionário arquiteto Oscar Niemeyer, projetista de Brasília que, como já dissemos, era comunista. Via-se um mar de barracas coloridas, azuis, amarelas, vermelhas, brancas, enfim de todas as cores. Todos respiravam o Dr. Simão Bacamarte Neto. Uns diziam que era um louco varrido, pois o seu avô o fora. Outros diziam que ele era um homem decepcionado que ficou desvairado com a crise econômica do país. Outros ainda que era um terrorista. E aí as mais variadas teses se desenvolveram por entre a multidão e os meios de comunicação. Os Estados Unidos ofereceram ajuda para o Brasil, considerando que aqui se poderia instalar um núcleo de profunda cisão americana. Os russos pediram cautela. Evo Morales, então presidente da Bolívia, ofereceu uma tonelada de folhas de coca para que fizessem  chá a fim de acalmar os ânimos. E por aí iam as ofertas.
No meio da multidão circulava uma figura estranha, um ser barbudo, alquebrado, cabelos brancos como a neve, com vestimenta de Jesus Cristo a apregoar o apocalipse, cujo apelido já tinha sido sacramentado entre a multidão acampada no imenso gramado defronte aos Três Poderes – João do Apocalipse.
O Dr. Simão Bacamarte Neto na sua primeira intervenção mandou um manifesto para ser lido pelos meios de comunicação e dizia o seguinte:
“Meu querido avô, Dr.Simão Bacamarte, ilustre médico da vila de Itaguaí, foi tremendamente incompreendido e injustiçado pela oposição, Não conseguiram entender o alcance de suas experiências científicas com os alienados daquela importante e histórica vila, pois ele dizia com a convicção que Deus lhe deu: ”O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhes os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal. Esse é o mistério do meu coração. Creio que com isso presto um bom serviço à humanidade”. Faço das palavras do meu amado avô as minhas, portanto aqui nesta casa, onde me encontro, farei o que ele faria ..
Aí vai o meu primeiro pedido: Dentro de 48 h quero que me entreguem o ex-presidente Polvo,”
As crônicas contam que esse pedido foi considerado muito louco, um assombro. Os meios de comunicação foram ao êxtase, o povo não compreendia onde queria chegar o ilustre médico. As autoridades ficaram atônitas, tentaram dissuadir o Dr., mas ele estava inflexível -  “Expludo tudo”. Enfim consultaram Polvo, que depois de muita negociação, concordou em se entregar. Com esse primeiro  inquilino começou a existir uma casa de orates em Brasília, nome que se consagrou em função das idéias do Dr. Simão Bacamarte Neto, já que a mídia iniciou a fazer a analogia entre esta casa e a casa  Verde Amarela da vila de Itaguaí, construída, pelo Neto e para abrigar alienados e outros não muito, como constataram, mais tarde, os médicos da vila de Itaguaí, comissionados para darem um veredito sobre a sanidade dos considerados doentes..
As autoridades, após a concordância de Polvo, iniciaram negociações para o seu translado e entrada no “penico” virado de boca para baixo, como dizia a plebe humorística.
Prevendo possíveis tumultos protagonizados pelo povo, uns contrários e outros favoráveis a Polvo, discutiam qual a melhor solução. Optaram por introduzi-lo na calada da noite e disfarçado. A estratégia deu certo e o ex-presidente Polvo foi introduzido na casa, sem confusão. E um comunicado foi feito pelas autoridades no dia seguinte. O fato repercutiu com tremenda expectativa entre todos. Aguardava-se com enorme ansiedade um pronunciamento do Dr.,
. O alienista Neto justificou o seu ato dizendo que nunca antes na história desse pais, um presidente havia inventado dar “bolsa de dinheiro” para família de ladrão condenado. Isso foi demais para a sua mente. Ele acabou, devido ao clamor popular, por emitir um comunicado escrito para justificar as suas decisões de trazer para dentro da “concha” o grande personagem público No comunicado afirmava: “ Povo de Brasília, comunico que o ex-presidente Polvo está bem. Encontra-se, nesse momento, tomando o café da manhã. Não há motivo para se preocuparem. É justo dizer que já iniciei os meus estudos sobre as causas de seus transtornos mentais. É uma mente bem distinta e terei muito trabalho. Um trabalho científico bem pesquisado sobre a demência humana, documentado em minhas publicações, as quais são do conhecimento da conceituada classe médica do Brasil e do mundo”
O comunicado caiu como uma bomba. Então o Dr. Simão Bacamarte Neto estava a fazer estudos sobre as mentes, aqui em Brasília? Bem, sabiam, principalmente, a classe médica que ele havia feito doutorado, na Alemanha, sobre distúrbios mentais, inclusive pesquisando em arquivos da segunda guerra, verificando experiências realizadas pelos médicos alemães que utilizavam seres humanos como cobaias. E isto começou a preocupar o Conselho Nacional de Medicina, resultando num veemente protesto do Conselho junto às autoridades. Exigiam providências urgentes. No documento anexaram inúmeros artigos de autoria Dr. Bacamarte Neto, publicado em revistas conceituadas,. versando sobre a insanidade da mente humana. Artigos que ocasionaram muitas críticas nos meios médicos e sociais.
Por outro lado a mídia abria outras hipóteses. Uma delas é que se tratava de um estratagema para livrar o ex-presidente Polvo das garras do Dr. Morro, o magistrado algoz dos corruptos, que estava a prender todo o mundo da elite empresarial e política do país.
 A situação estava em compasso de espera. O país estava paralisado. Em Brasília, capital da república, nada andava, tudo parado, sem governo, sem diretrizes, sem nada. O Dr. Bacamarte era  só o assunto. Passou-se uma semana e nada. Por fim na Segunda-feira ouviu-se um alarme tocar provindo da concha virada para baixo. Brasília emudeceu. Não se ouvia um cair de lenço na parte externa da concha, nas praças, silêncio. O povo mal respirava, em suma era uma interrogação absurdamente preocupaste. Por fim uma voz roufenha, muito conhecida, se ouviu. Era uma ordem do Dr. Bacamarte, apregoada pelo Sr. Polvo. “Companherada, se acalmem. Em breve sairemos daqui, mas antes é necessário que mandem para cá o presidente da Câmara dos deputados e do Senado, bem como a presidente, Dona Moreia”. Isto deve ocorrer em 24 h.. É isso pessoal.”
No dia seguinte, todos entraram na casa, sob a indignação geral. Quanto mais gente entrava mais difícil se tornava a negociação de libertação
Dentro da casa o Dr, Simão Bacamarte Neto entrevistava ora um, ora outro, à medida que o tempo passava. Trespassava a noite escrevendo suas observações utilizando seus conhecimentos psiquiátricos. Tinha a certeza, agora, que cada um destes seus novos pacientes possuía um tipo característico de demência. E nesse seu entusiasmo quixotesco ia elaborando suas teorias e enchendo folhas e folhas do seu caderno.
Do ex-presidente Polvo, dizia ::
“Mente extremamente versátil que gostava de sentir-se acima das outras. Gostava de usar frases de efeito como: “...nunca antes neste país...” ou de fazer-se de mouco: “...não sei de nada, não ouvi, não vi...”, lembrando os três macaquinhos japoneses. Caso raro, muito raro, anotava ele. Tinha dúvidas se ele seria  um Robin Hood moderno ou um Dom Quixote a lutar contra moinhos gigantes.
Dos outros dois pacientes anotara: Um é o protótipo do Ali Babá e o outro do Homem Aranha. A presidente, bem ,não fizera um juízo ainda, mas tinha quase certeza que era um “pau mandado” do ex-presidente, sobretudo não entendera, a sua ação em nomear um comunista como Ministro da Defesa.
Vá entender o Dr, Simão Bacamarte Neto. Mas, ainda podem ser feitos estudos para tentar entendê-lo, já que seu caderno foi salvo dos escombros da hecatombe por ter sido guardado, por ele, mais precisamente numa caixa metálica resistente a altas temperaturas, caixa essa trazida, como lembrança, doada por um médico alemão. Uma relíquia da Segunda Guerra da qual ele não se separava.
- João do Apocalipse! Ressoou do alto-falante.
Ouviu-se, em toda a esplanada um uníssono “Ohhhh...” da população. Imagina, dentre tantas personagens importantes do país, lá vai um João ninguém, um pobre coitado, um doido varrido. Mas, ele subiu e do alto da plataforma, à frente das duas conchas, qual arauto mesmo do Apocalipse, gritou com voz roufenha, no seu megafone: ”Sete igrejas, sete igrejas, sete igrejas!!! A bola de fogo dos céus se aproxima!
 Delírio da multidão!
Usando da mesma estratégia, João do Apocalipse foi encarcerado, No fim da semana estavam todos os  personagens dentro na casa de orates de Brasília, supervisionada pelo ilustre Dr. Simão Bacamarte Neto, já apelidado de o “Alienista Neto”. Dentro de poucos dias o alienista neto já havia encarcerado os principais cabeças do país sem derramamento de sangue e na mais absoluta ordem. Isto era muito bem reconhecido pelos meios de comunicação nacionais e internacionais. O país estava à deriva, sem comando e sem perspectivas. Os governantes que resultaram estavam atarantados, não sabiam reagir diante de tamanha confusão. Os deputados já lotavam o prédio da concha virada para cima, onde havia livre circulação. Discursos inflamados se sucediam na tribuna, debulhando as mais variadas soluções. Uns queriam novas eleições, outros que o vice-presidente assumisse, outros ainda queriam votar o regime parlamentarista. Enfim era o caos. Numa coisa todos concordavam: os constituintes dos três poderes deveriam ocupar suas cadeiras e ficarem em assembléia permanente.

IV – A casa de orates Brasiliense e o seu apocalipse

O Dr. Simão Bacamarte Neto instalou-se em um gabinete, sentou-se na suntuosa cadeira, ligou o ar condicionado, distribuiu sobre a mesa seus livros, revistas onde estavam impressos seus artigos, pegou sua caneta de ouro que pertenceu a seu avô, o caderno de anotações e, avidamente, iniciou a preencher as folhas do seu caderno. Era alta madrugada quando João do Apocalipse irrompeu no gabinete e pediu a atenção do Dr.
- Venha até aqui e olhe, Dr.! Veja três luzes aumentando de tamanho em nossa direção.
- Onde?
- Lá! Olhe! E apontou o dedo para o céu, na direção das luzes viajantes.
- Ah! São apenas meteoritos viajantes, João.
- Sim Dr., mas vem para cá!
- Como podes afirmar isso?
- É o Apocalipse, Dr.!
- Que Apocalipse, João?
- O fim do mundo Dr. O fim do mundo que fala a Bíblia.
- Vai, João, vai dormir.!
- Eu vou, mas com certeza amanhã elas estarão aqui.
- Tá certo, João!
O Dr. Simão Bacamarte Neto continuou suas anotações, não sem antes abrir um capítulo para João do Apocalipse, terminando com a pergunta: “Será mesmo?”. Foi dormir também,
Logo cedo, na manhã, recebeu  a comissão dos seus prisioneiros que queriam lhe falar.
- Sentem-se, ordenou o Dr. Bacamarte. Antes de qualquer coisa permitam que eu meça a circunferência de suas cabeças.
- Mas, Dr. falou a presidente
Não conseguiu terminar o seu pensamento porque o Dr. já estava medindo sua cabeça e anotando em sua caderneta. Mediu  rapidamente, sob a indignação e curiosidade de todos.
- Para que isso Dr.?, perguntou o presidente do Senado.
- Não se espantem, é para uso de meus cálculos. Aprendi com as teorias dos médicos alemães que é possível calcular a massa encefálica a partir dessa medida usando uma equação desenvolvida em suas experiências durante a Segunda Guerra, nos campos de concentração.
Todos se olharam com olhos arregalados.
- E isso leva a que Dr?., solicitou o presidente da câmara
- Ah! È muito importante para estimar o número de neurônios existentes no cérebro. Sabem quantos neurônios possuía Hitler?
E sob total perplexidade dos presentes, respondeu o Dr.:
- Segundo os cálculos dos teóricos alemães, Hitler possuía apenas 56 bilhões dos 86 bilhões possíveis.
- E nós Dr. quantos neurônios temos?, arguiu o ex-presidente Polvo, louco de curiosidade a esta altura.
- É uma incrível coincidência. Vocês têm aproximadamente a mesma circunferência de cabeça que Hitler e, portanto, quase o mesmo número de neurônios. Alguns mais outros menos. É uma grande descoberta, acrescentou.
- Mas, o Hitler era um orates, um doido varrido, Um sem escrúpulos, um facínora, um ditador, um megalomaníaco, exclamou a presidente. O Sr. não quer nos comparar a ele, quer?
- Não sou eu, minha filha são as teorias.
- Mas, se fosse louca, não teria lutado contra a ditadura, criado no meu governo o “bolsa família, o “minha casa, minha vida”e tudo o mais.
- Alto lá Dona Moreia, atalhou o ex-presidente Polvo. O “Bolsa Família” fui eu que criei e o resto criamos juntos,
- Vocês quebraram a Petrobrás, nossa maior empresa . Foi isso que vocês fizeram, atalhou o presidente da Câmara. Vocês deram o golpe da compra da refinaria de Passadina.
- E você que desviou milhões para tua conta no exterior, acusou o presidente do Senado.
E as vozes se alteravam cada vez mais em acusações mútuas. O Dr. Simão Bacamarte Neto a tudo anotava, velozmente, em sua caderneta. Seus olhos exultavam de satisfação. As suas teses estavam se confirmando à medida que a discussão avançava. Ficou mais exultante, ainda, quando seus prisioneiros começaram a se agredirem fisicamente. O gabinete foi transformado em um verdadeiro ringue.
Por fim, entrou o João Apocalipse na sala, subiu numa mesa e começou a gritar:
- Sete Igrejas...Sete Igrejas...É o fim.... É o Apocalipse...O fogo se aproxima.....
Um silêncio total se fez, num instante, até que o ex-presidente Polvo perguntou:
- O que está falando esse doido?

Ninguém respondeu.

A Praça dos Três Poderes virou um buraco só. E tudo sucumbiu ao impacto de três meteoritos. Salvou-se, apenas, a caixa metálica do Dr. Simão Bacamarte Neto.

E a profecia de João do Apocalipse se fez!

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